quarta-feira, 23 de maio de 2007

O Líder Voltado Para ‘Como Ser’

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Frances Hesselbein
Uma revista de negócios solicitou a um determinado número de diretores-presidentes de corporações que “observassem o horizonte das atuais manchetes”, “dimensionassem o futuro” e descrevessem as tarefas mais prementes para eles reservadas após este milênio. Também fui convidada e em minha resposta escrevi, “os três maiores desafios que os diretores-presidentes enfrentarão pouco têm a ver com gerenciar os ativos tangíveis da empresa e muito a ver com monitorar a qualidade da liderança, a força de trabalho e os relacionamentos”. Depois que a revista foi publicada um dirigente de empresa escreveu-me dizendo, “seus comentários fizeram muito sentido para mim. Acredito que os três desafios descritos por você são como pernas em um banco. Todavia, vejo os líderes atendendo a somente uma, ou talvez duas, das pernas!”
Nos frágeis anos que temos pela frente, os habituais referenciais, indicadores e marcos mudarão tão rápida e explosivamente como as horas, mas haverá uma constante no centro do vórtice: o líder. O líder do próximo milênio não será apenas aquele que aprendeu as lições de como fazer, escriturando ‘comos’ balanceados com ‘teres’ que se dissolvem nas estrondosas mudanças à frente. O líder de hoje e do futuro será focado em como ser – como desenvolver qualidade, caráter, mentalidade, valores, princípios e coragem.
O líder voltado para ‘como ser’ sabe que as pessoas são o principal ativo de uma organização e demonstram esta poderosa filosofia através de palavras, condutas e relacionamentos. Este líder há muito baniu a hierarquia e, envolvendo muitas cabeças e mãos, gerou um novo tipo de estrutura. O novo design tirou as pessoas dos blocos da velha hierarquia e as moveu para um sistema gerencial mais circular, flexível e fluido, que permitiu a liberação do espírito e do esforço humanos.
O líder voltado para ‘como ser’ constrói uma liderança distribuída e diversa – levando-a até as bordas mais extremas do círculo a fim de desencadear a energia da responsabilidade compartilhada. Ele gera uma força de trabalho, uma diretoria e uma equipe administrativa que refletem as várias faces da comunidade e do ambiente, de modo que clientes e membros se encontrem quando virem esta organização do futuro ricamente diversa.
Este líder prega a visão do futuro da organização de modo tão empolgante que acende a fagulha necessária para construir uma empresa abrangente. Ele mobiliza as pessoas em torno da missão da organização, convertendo-a em uma força poderosa para os futuros tempos incertos. A coordenação em torno da missão gera uma energia que transforma o local de trabalho em um lugar onde trabalhadores e equipes podem se expressar em suas atividades e encontrar sentido além da tarefa, enquanto procuram cumprir a missão. Através do foco direcionado para a missão, o líder voltado para ‘como ser’ fornece aos demais líderes, diversos e espalhados pela empresa, um senso claro de direção e a oportunidade de encontrar sentido em seus trabalhos.
O líder voltado para ‘como ser’ que ouve um cliente e aprende o que ele valoriza – ‘mergulhado de cabeça’ – será um componente fundamental, mais ainda para o futuro do que hoje. As competições global e local somente aumentarão de velocidade e a necessidade de manter o foco no que o cliente valoriza será cada vez maior.
Todos olharão o líder de amanhã, como fazem hoje em dia, observando se as práticas de negócio da organização são coerentes com os princípios por ele abraçados. Em todas as interações, da menor à maior, o comportamento do líder voltado para ‘como ser demonstrará a fé no valor e na dignidade de homens e mulheres que fazem a empresa.
Fundamental para o significado social dos líderes de amanhã é a forma como abraçam a totalidade da liderança, não apenas abrangendo a ‘minha organização’ mas estendendo-se além das fronteiras. O líder voltado para ‘como ser’, trabalhando em qualquer setor, privado, público ou social, reconhece o significado das vidas de homens e mulheres que fazem a empresa, o valor de um local de trabalho que mantém pessoas cujo desempenho é essencial para a realização da missão, e nutre a necessidade de uma comunidade saudável para o sucesso da organização. O líder sábio abraça a todos aqueles contidos em um círculo que envolve a corporação, a organização, as pessoas, a liderança e a comunidade.
Os desafios externos exigirão a mesma atenção, compromisso e energia que as tarefas internas mais urgentes. Os líderes do futuro dirão, “isto é intolerável”, quando olharem para as escolas, a saúde das crianças que formarão a futura força de trabalho, a inadequada preparação para a vida e para o trabalho em tantas famílias, as pessoas perdendo a confiança nas instituições. Os novos líderes constituirão a comunidade saudável com a mesma energia com que construíram saudáveis e produtivas empresas, sabendo que a organização de alto desempenho não pode existir se faltar com seu pessoal em uma comunidade doente.
As atuais preocupações com a falta de lealdade dos trabalhadores com a corporação e a correspondente falta de lealdade das corporações com a força de trabalho estão enviando uma clara mensagem aos líderes do amanhã. Os cães de briga do mercado podem achar que suas filosofias’cortar e mastigar’ e ‘persistir até a morte’ estão tão mortas como os espíritos de suas tropas. No final, à medida que as organizações reduzem a força de trabalho, será o líder de uma força de trabalho desmoralizada e deprimida que conduzirá essas tropas ou será o novo líder, orientado pela visão, princípios e valores, que construirá a confiança e libertará a energia e criatividade da força de trabalho?
Os grandes observadores não estão prevendo bons tempos, mas entre os mesmos riscos que estão diante dos líderes, existem notáveis oportunidades para aqueles que conduzirem suas empresas e seu país para um novo tipo de comunidade — uma comunidade coesa de crianças saudáveis, famílias fortes e onde o trabalho dignifique o individuo. E nesta arena que líderes com novas mentalidades e visões desenvolverão novas relações, cruzando os três setores para formar parcerias e comunidades. Isto exigirá uma espécie diferente (ou a antiga, liberta das desgastada abordagem de fazer sozinho), feita de líderes que ousam ver a totalidade da comunidade e da vida, que vêem o trabalho como uma oportunidade agradável de expressar tudo que dê emoção e luz à vida, e que tenham coragem de guiar desde o início com base em questões, princípios, visão e missão que se transformem em estrela-guia. Os líderes do futuro podem apenas especular os elementos tangíveis que definirão os desafios além-milênio. Mas os intangíveis, as qualidades de liderança necessárias, são tão constantes como a Estrela Polar. Estão expressos no caráter, na energia interior e no ‘como ser’ dos líderes do novo milênio.

Frances Hesselbein é presidente da Peter F. Drucker Foundation for Nonprofit Management (Fundação Peter Drucker de Gestão Sem Fins Lucrativos) e presidente do Conselho de Diretores do Josephson Institute for the Advancement of Ethics (Instituto Josephson de Progresso Ético). Foi diretora-presidente cia Girl Scouts of the USA (Federação de Bandeirantes dos EUA) de julho de 1976 a fevereiro de 1990. Em agosto de 1991, o Presidente Bush nomeou-a para o conselho de administração da Commission on National and Community Service (Comissão de Assistência às Comunidades e à Nação) e para o Conselho Consultivo da Light Iniciaative Foundation, em 1989. Frances recebeu vários prêmios, entre eles nove títulos de doutora honorária e o prêmio Excellence in Leadership (Excelência em Liderança) da National Women’s Economic Alliance (Aliança Nacional de Economia da Mulher).