segunda-feira, 11 de junho de 2007

Três Funções do Líder no Novo Paradigma

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Stephen R. Covey
O líder do futuro, ou do próximo milênio, será alguém capaz de desenvolver uma cultura ou um sistema de valor baseado em princípios. Desenvolver tal cultura em uma empresa, governo, escola, hospital, organização sem fins lucrativos, família ou outra organização qualquer será um desafio extraordinário e empolgante nesta nova era. E somente será alcançado por líderes, sejam estes emergentes ou sazonais, com visão, coragem e humildade para aprender e crescer continuamente. Essas pessoas e organizações entusiasmadas com o aprendizado — aprendizado que acontece ouvindo, observando tendências, percebendo e antecipando necessidades do mercado, avaliando sucessos e erros do passado, e absorvendo as lições que a consciência e os princípios nos ensinam, para mencionar apenas alguns métodos — exercerão influência duradoura. Estes líderes voltados para o aprendizado não resistirão à mudança; eles a abraçarão.
Um mundo de águas revoltas
O mundo se modificou de maneira muito profunda. Esta mudança continua acontecendo a nossa volta, o tempo todo. É um mundo de águas revoltas. A revolução do consumo atingiu imensa velocidade. As pessoas estão muito mais esclarecidas e conscientes. Forças mais dinâmicas e competitivas entraram em ação. Os padrões de qualidade se elevaram, sobretudo no mercado global, a ponto de simplesmente não haver uma forma de falsificá-lo. É possível sobreviver em um mercado local sem atender a esses padrões, talvez até em um mercado regional mas, em termos globais, certamente não.
Em todos os setores — empresarial, governamental, saúde, social ou sem fins lucrativos — o mercado está exigindo que as organizações se transformem. Elas devem ser capazes de produzir bens e serviços e empregá-los de maneira rápida, amigável e flexível, e de forma consistente para atender as necessidades de clientes internos e externos. Isto requer uma força de trabalho que possa não apenas oferecer toda sua criatividade e talento, mas também que seja facilitada, estimulada e recompensada por essas contribuições. Apesar de milhares de organizações estarem profundamente envolvidas com as iniciativas de qualidade projetadas para produzir estes mesmos resultados, a transformação não está sendo alcançada. A razão fundamental pela qual grande parte destes projetos não funciona é a falta de confiança na cultura — nos relacionamentos entre as pessoas. Assim como você não pode falsificar a qualidade de classe mundial, também é impossível falsificar a alta confiança. Esta deve proceder da fidelidade.
Acredito que a globalização da economia seja, acima de tudo, o principal fator a determinar a qualidade. Ela nos está ensinando que princípios como delegação de poder (empowerment), confiança e fidelidade sem dúvida controlam os resultados efetivos que buscamos. Os líderes mais eficazes são, em primeiro lugar, modelos do que chamo liderança baseada em princípios. Eles começaram a perceber que somos todos sujeitos a leis naturais ou princípios governamentais, os quais operam independentemente da consciência que temos deles ou da nossa obediência a eles. Nossa eficácia está baseada na harmonia com estes princípios invioláveis — leis naturais na dimensão humana que são exatamente tão verdadeiras, tão imutáveis como a lei da gravidade na dimensão física. Estes princípios são costurados à estrutura de toda sociedade civilizada e constituem as raízes de toda organização durável.
À proporção que admitimos e vivemos em harmonia com princípios fundamentais como imparcialidade, presteza, igualdade, justiça, integridade, honestidade e confiança, movemo-nos em direção ora da sobrevivência e da estabilidade, ora da desintegração e da destruição. Princípios são leis naturais que se manifestam e se confirmam por si mesmos. Na verdade, a melhor maneira de perceber a auto manifestação de um princípio é tentar imaginar um mundo ou, neste contexto, qualquer sociedade, organização ou família real e duradoura, baseada em seu oposto.
Princípios corretos são como bússolas: estão sempre indicando o caminho. Não mudam e, se soubermos como decifrá-los, não ficaremos perdidos, confusos ou iludidos por valores e vozes dissonantes. Eles apontam a direção do norte verdadeiro de nossas vidas quando navegamos pelas ‘correntes’ de nossos ambientes. Assim, vemos que um núcleo imutável e baseado em princípios é a chave para obter confiança, segurança, poder, orientação e sabedoria a fim de transformar a maneira como lidamos como as necessidades e oportunidades mutáveis que nos rodeiam.
A primeira função do líder, portanto, é ser um modelo da liderança baseada em princípios. Quando uma pessoa ou uma organização está baseada em princípios, torna-se um modelo — um exemplo — para outros. É este tipo de modelo, este tipo de caráter, competência e ação que promove a confiança entre as pessoas, fazendo com que se identifiquem com ele e por ele sejam influenciadas. Servir de modelo, conseqüentemente, é uma combinação de caráter (quem você é como pessoa) e competência (o que você pode fazer). Estas duas qualidades representam seu potencial. Mas quando você realmente faz — quando combina ação e caráter — consegue estabelecer o modelo.

Três funções de um líder
O que significam, então, estes modelos de líderes baseados em princípios? Sugiro que você desmembre a liderança em três funções ou atividades básicas: explorar, alinhar e dar autonomia (empowerment). A seguir, examinaremos cada uma delas.
Explorar
A essência e a força de explorar são encontradas em uma visão e uma missão instigante. Explorar relaciona-se com o sentido maior do futuro. Traz a cultura impregnada e empolgada com um propósito transcendente e fora do comum. Mas em relação a quê? A atender às necessidades de seus clientes e de outros grupos de interesse. Explorar, deste modo, vincula seu sistema de valor e sua visão às necessidades dos clientes e de outros grupos de interesse, através de um piano estratégico. Denomino-o caminho estratégico.
Alinhar
A segunda atividade de um líder é alinhar. Ela consiste em assegurar que a estrutura organizacional, sistemas e processos operacionais contribuam para realizar a missão e a visão de atender às necessidades de clientes e de outros grupos de interesse. Eles não interferem nelas, não concorrem com ela e não a dominam. Só existem por uma razão — colaborar com ela. Sem sombra de dúvida, a major alavancagem do princípio de alinhamento ocorre quando seu pessoal está alinhado a sua missão, visão e estratégia. Quando as pessoas compreendem plenamente as necessidades, quando compartilham um poderoso compromisso de realizar a visão, quando são convidadas a criar e a aperfeiçoar de forma continua as estruturas e os sistemas que atenderão a estas necessidades, você obteve o alinhamento. Sem estas condições humanas, você não pode obter uma qualidade de classe mundial; tudo que você tem são programas frágeis. Enfim, precisamos aprender que programas e sistemas são vitais, contudo são pessoas que os desenvolvem.
Dar autonomia (empowerment)
A terceira atividade de um líder é dar autonomia. 0 que isto significa? As pessoas possuem enorme talento, habilidade, inteligência e criatividade, grande parte adormecida. Quando você obtém o verdadeiro alinhamento à visão e à missão comuns, começa a desenvolver as missões em conjunto com estas pessoas. Missão e objetivo individuais se mesclam a missão da organização. Quando estes dois propósitos se sobrepõem, uma grande sinergia é gerada. Uma fagulha se acende no interior dessas pessoas e desperta talentos, habilidade e criatividade latentes para fazerem o que for necessário e coerente com os princípios acordados, a fim de realizar seus valores, visão e missão de atender clientes e demais grupos de interesse. Isso é o que entendemos por dar autonomia (empowerment).
Porém, depois, você precisa analisar o que acontece. Quais são os resultados? Estamos realmente atendendo às necessidades dos clientes e dos outros grupos de interesse? Dados e informações que indicam se estas necessidades estão na verdade sendo atendidas devem ser passados as pessoas e equipes pertencentes à cultura, de modo que possam utilizá-los para aplicar as correções e melhorias necessárias, além de continuar a fazer o que for preciso para o cumprimento da missão e o atendimento das necessidades.
Um novo paradigma de liderança
Estas funções de modelagem da liderança baseada em princípios — explorar, alinhar e dar autonomia — representam um paradigma que é diferente do tradicional pensamento gerencial. Existe uma diferença muito significativa entre gerência e liderança. Ambas são funções vitais e, por isso, torna-se fundamental compreender a diferença entre elas para não confundi-las. Liderança está voltada para fazer as coisas certas; gerência se preocupa em fazer certo as coisas. Liderança garante que as escadas que estamos subindo estão apoiadas na parede certa; gerência assegura que estamos subindo as escadas da maneira mais eficiente possível. A maioria dos gerentes e executivos opera segundo paradigmas ou formas de pensamento existentes, mas os líderes têm a coragem de trazer à tona estes paradigmas, identificar as premissas e motivações subjacentes a eles e desafiá-las, perguntando, “Isto ainda é sensato?” Por exemplo:
  • Na área de saúde, novos líderes poderiam desafiar a premissa de que a medicina se concentra no diagnóstico e no tratamento da doença. Hoje em dia, algumas faculdades nem mesmo ensinam nutrição, embora um terço de todos os cânceres esteja relacionado à nutrição e dois terços de todas as doenças, ao estilo de vida. Ainda assim, o meio médico segue o caminho do diagnóstico e do tratamento da doença. Eles alegam que lidam com o todo — a saúde e o bem-estar da pessoa — mas possuem um paradigma de tratamento. Felizmente, novos líderes estão desenvolvendo mais alternativas de medicina preventiva.
  • No direito, novos líderes poderiam desafiar a premissa de que a lei é mais bem praticada nas salas de tribunal utilizando o litígio confrontante do ganhar-perder. Eles poderiam se mover no sentido de utilizar a sinergia e o pensamento ganhar-ganhar para prevenir e resolver contendas. A resolução alternativa da controvérsia geralmente gera compromisso. Novos líderes buscarão opções ‘ganhar-ganhar ou nada feito’ que conduzam a sinergia. Sinergia significa mais do que cooperação; é desenvolver melhores soluções. Ela requer o empático ato de ouvir e a coragem de expressar visões e opiniões, através de meios que demonstrem respeito pelas visões das outras pessoas. Da interação autêntica provêm percepções sinérgicas.
  • Nas empresas, novos líderes desafiarão a premissa de que ‘a satisfação total do cliente’ representa a principal ética da prestação de serviços. Eles caminharão rumo a satisfação total dos grupos de interesse, cuidando para que todos participem do sucesso da operação e tomando decisões que beneficiem todos os grupos. Para levar a efeito esta nova mentalidade, os líderes deverão desenvolver um novo conjunto de habilidades sinérgicas. A sinergia provém naturalmente da qualidade do relacionamento — amizade, confiança e amor que unem as pessoas.
Combinando o novo conjunto de habilidades sinérgicas com a nova mentalidade de interdependência, você conseguirá o golpe perfeito para conquistar a vantagem competitiva. Ao conseguir a mentalidade e as habilidades, você gera processos, sistemas e estruturas eficazes alinhados a sua visão e missão. Cada organização está perfeitamente projetada e alinhada para obter os resultados que atinge. Se quiser resultados diferentes, precisará de mentalidade e habilidades novas para desenvolver soluções sinérgicas. Ter todos os grupos de interesse em mente ao tornar decisões é somente um egoísmo civilizado, pois somos muitos interdependentes.

Quem é o líder do futuro?
Em muitos casos, o líder do futuro será o mesmo que o do presente. Não haverá mudança de pessoal, mas uma mudança interna: alguém se torna o líder do futuro através de uma completa transformação. O que conduz os líderes a mudança? O que os faz mais baseados em princípios?
Acho que a principal fonte de mudança pessoal é a insatisfação; esta pode ter origem na decepção, no fracasso, na morte, em relacionamentos perturbados ou rompidos com familiares ou amigos, na violação da confiança, na fragilidade pessoal, no desânimo, no tédio, no descontentamento, na saúde debilitada, nas conseqüências de más decisões, na solidão, na mediocridade, no medo, em problemas financeiros, na falta de segurança no emprego ou na vida desequilibrada. Quando você está satisfeito, raramente há suficiente motivação ou humildade para mudar. Muitas vezes não há sequer uma necessidade percebida. Sem a insatisfação pessoal, as pessoas costumam ficar tão profundamente voltadas para si mesmas e para o próprio mundo que não se elevam acima dos próprios interesses ou do método de conduzir as coisas, tanto em casa quanto no trabalho. Quando estão vivenciando a insatisfação, costumam ser mais abertas a um novo modelo de vida no qual elementos comuns de humildade e sacrifício pessoal levem à mudança total baseada em princípios.
O impulso básico da mudança organizacional é a globalização da economia. O padrão de qualidade está agora tão elevado que, a menos que você tenha urna força de trabalho autônoma e um espírito de parceria com todos os grupos de interesse, não poderá competir, seja qual for o setor em que trabalhe: público, privado ou social. Quando você está diante de concorrentes que pensam de maneira mais ecológica e interdependente, certamente a força das circunstâncias o faz ser humilde. É isto que está direcionando a busca pela qualidade, pelo aprendizado, pela reengenharia de processos e outras iniciativas. No entanto, muitas destas iniciativas não vão muito longe. A mudança de mentalidade não é bastante e os objetivos de todos os grupos de interesse precisam ser tratados de maneira orquestrada.
Somos forçados a ser humildes pelas circunstâncias, ou podemos optar por sermos humildes pelo reconhecimento de que os princípios realmente governam. Ser humilde é bom, independente da razão. Mas é melhor ser humilde conscientemente, em vez de pelas circunstâncias.
O líder do futuro: por dentro, uma família
O líder do futuro é humilde para aceitar princípios e corajoso para se alinhar a eles, o que exige grande sacrifício pessoal. Através da humildade, da coragem e do sacrifício advém a integridade. Na verdade, gosto de pensar neste tipo de líder como se houvesse uma família inteira dentro dele: humildade e coragem, os pais; integridade, o filho.
Os pais, humildade e coragem
A humildade diz, “Não estou no controle; os princípios realmente governam e controlam.” O líder entende que a chave para o sucesso a longo prazo é aprender a se alinhar aos princípios do tipo ‘norte verdadeiro’. Isto exige humildade, pois a mentalidade tradicional é “estou no controle; meu destino está em minhas mãos”. Este raciocínio gera arrogância — o tipo de orgulho que antecede a queda.
Os líderes do futuro terão coragem de se alinhar aos princípios e ir contra a natureza de velhas premissas ou paradigmas. Isto requer muita coragem e energia para dizer, “vou alinhar meu sistema de valores pessoais, meu estilo de vida, minha direçao e meus hábitos a princípios eternos.” A coragem é a qualidade de todo princípio no mais alto ponto de prova. Toda virtude é testada ao mais alto grau. É onde a coragem entra em jogo. Quando você se depara diretamente com uma velha abordagem, experimenta o medo de romper um antigo hábito e substituí-lo por algo novo.
O filho, integridade
Do casamento da humildade com a coragem nasce a integridade. Todos desejamos ser conhecidos e lembrados como pessoas íntegras. Ter integridade significa estarmos integrados com princípios. Os líderes do futuro precisam ser homens e mulheres íntegros, que internalizem estes princípios. Eles crescem em sabedoria e cultivam uma mentalidade de fartura — o reconhecimento de que há oportunidade para todos. Se você for íntegro, não será apanhado em um constante estado de comparação com os outros. Nem sentirá necessidade de praticar jogos políticos, pois segurança vem de dentro de você. Tão logo mude a fonte de sua segurança, tudo mais fluirá dela. Sua segurança, poder, sabedoria e orientação aumentam, pois você traz constantemente consigo a força destes princípios à medida que os aplica.
Observação final
Estamos nos tornando cada vez mais dolorosamente conscientes do perigoso enfraquecimento de nossa estrutura social. Drogas, gangues, analfabetismo, pobreza, crime, violência, dissolução da família — isto e tudo continua em uma espiral descendente. Os líderes do presente começam a admitir que tais problemas sociais colocam em risco todos os aspectos da sociedade. Os líderes do futuro percebem que os setores dos quais tradicionalmente se esperavam soluções para esses problemas estão muito distantes da capacidade de tratá-los — a saber, os setores governamental e social. Minha intenção não é criticá-los. Na verdade, acredito que sejam os primeiros a admitir que, sem uma ampla rede de mãos auxiliares, estão fadados ao fracasso.
A questão é que, em geral, tem diminuído muito a responsabilidade que vizinhos, comunidades, igrejas, famílias e pessoas sentem quanto a se oferecerem voluntariamente. Tem sido muito fácil nos eximirmos desta obrigação com nossas comunidades. Acredito ser uma responsabilidade familiar e que todos deveriam ter um senso de vigilância em relação à comunidade — todo homem, toda mulher e toda criança. Deveria existir um verdadeiro sentido de vigilância em torno da assistência comunitária da parte dos jovens, sobretudo daqueles em idade mais idealista, entre 18 e 25 anos.
O líder do futuro será um líder em cada área da vida, sobretudo a familiar. As imensas necessidades e oportunidades da sociedade exigem uma grande responsabilidade com relação a assistência. Não há outro lugar onde o espírito de assistência possa ser cultivado como em casa. O espírito do lar, e também da escola, é que prepara os jovens para servir. Espera-se que as pessoas sirvam. A vida e uma missão, não uma carreira. O espírito total desta filosofia deveria impregnar nossa sociedade. Também acho que é uma fonte de felicidade, pois você não consegue a felicidade diretamente. Ela somente vem como subproduto do serviço. Você pode obter prazer diretamente, mas ele é efêmero.
Como, então, influenciarmos nossos filhos ao espírito de assistência e à colaboração significativa? Primeiro, devemos olhar para dentro de nós e perguntar: sou um modelo deste princípio de serviço? Minha família percebe minha dedicação de tempo e capacidade para servi-los e à comunidade? Segundo, minha família e eu temos dedicado tempo a nos absorver nas necessidades dos outros na comunidade, de modo a criar um sentido de visão sobre como nossa família e cada um de nós individualmente pode fazer colaborações únicas e significativas para atender a estas necessidades (explorar)? Terceiro: como líder em meu lar, alinhei as prioridades e as estruturas de nossa vida de modo que este desejo de servir seja sustentado, em vez de enfraquecido? Por fim, criei condições e oportunidades em casa que dêem autonomia de servir a meus filhos? Estimulei e apoiei o desenvolvimento de suas mentes e seus talentos? Organizei oportunidades de servir para toda a família e fiz tudo o que pude para criar um clima agradável em torno dessas atividades? Mesmo que a resposta a cada urna destas perguntas seja não, todos nós ainda ternos a capacidade de decidir sobre o que pautará nossas vidas a partir de hoje.
Esta capacidade inerente de escolher, desenvolver urna nova visão para nós mesmos, reescrever nossa vida, iniciar um novo hábito ou abandonar um antigo, perdoar alguém, pedir desculpas, fazer uma promessa e depois mantê-la, em qualquer área da vida é, sempre foi e sempre será, um momento de verdade para cada líder verdadeiro.
Stephen R. Covey é fundador e presidente da Covey Leadership Center, que atende mais da metade das empresas Fortune 500, além de milhares de organizações de pequeno e médio porte nos EUA e no mundo inteiro. Covey é autor de Os sete hábitos das pessoas muito eficazes, que já vendeu mais de cinco milhões de cópias e está sendo publicado em 26 idiomas em mais de 30 países. Seus outros bestsellers incluem Liderança baseada em princípios e First things first - como definir prioridades num mundo sem tempo.

Desenvolvendo Líderes Tridimensionais

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James F. Bolt
“Procura-se: executivo para conduzir empresa Fortune 500 no século XXI. Deve ser um cidadão global, visionário, autêntico, corajoso. Não é desejável que seja obcecado por trabalho.”
Se um anúncio como este fosse publicado nos classificados de domingo de qualquer grande jornal, a resposta de prováveis diretores-executivos seria esmagadora. Contudo, no mar de résumés e currículos repletos de MBAs, poucos candidatos, se tanto, preencheriam os requisitos. Ao contrário, dirigentes de empresas americanas estão ‘falhando na ação’. Numa época em que a liderança é mais crucial do que tudo para nossa própria sobrevivência, existe uma grave carência de pessoas qualificadas para liderar corporações neste próximo século.
Esta crise não se limita aos negócios; ela atinge todas as áreas da sociedade. Perturbadora e desagradável, nem sempre é articulada mas reside na superfície do subconsciente. As mais recentes eleições políticas dos EUA deram urna forte manifestação deste desencantamento.

A retardada competitividade da América
Embora a falta de líderes seja uma questão global, a lacuna provocada pela liderança na América é sublinhada pela impressionante reformulação da economia mundial, um mundo no qual a mudança, a instabilidade e a imprevisibilidade são grandes constantes. Outrora gigantes da economia mundial, as grandes corporações americanas se encontram, hoje em dia, lutando pela própria sobrevivência. A violenta investida da concorrência estrangeira, a tendência para a desregulamentação, a responsabilidade ambiental e social, e mesmo o escândalo, são alguns dos fatores que têm impulsionado quase todas as grandes empresas para um ambiente profundamente intenso.
As forças da mudança, entre elas a competição, diversificação, globalização e desenvolvimento tecnológico, causaram um péssimo impacto sobre uma indústria após a outra nos EUA. Imagine que apenas 25 anos atrás, os EUA controlavam 35 por cento da economia mundial. Hoje em dia, nossa parcela mal chega a 20 por cento. Apenas uma geração atrás, o Japão respondia por apenas dois por cento da economia do mundo. Hoje em dia ele reivindica mais de dez por cento, em grande parte às custas dos EUA. O Japão recentemente surgiu como o credor mais rico do globo e, agora, nós desfrutamos da duvidosa honra de sermos o maior devedor do mundo.
“Até o final deste século”, escreve John Kotter em The leadership factor (O fator de liderança, 1988, P. 15), “provavelmente continuaremos a ver um mundo de negócios que parece fundamentalmente diferente do das décadas de 50 e 60”. Ele previne que dentro desta paisagem irreconhecível e tumultuada, existe uma necessidade crítica de liderança: “Será um mundo de intensa atividade competitiva entre organizações muito complexas.... será um mundo no qual mesmo os melhores ‘administradores profissionais’ serão ineficazes a menos que também possam liderar. Em geral, será um mundo no qual o fator de liderança na administração se tornará cada vez mais importante — para a prosperidade e até para a sobrevivência”.

Existe uma crise de liderança?
A carência de liderança está evidente em toda a sociedade. Para qualquer lado que nos voltemos, vemos uma grave falta de fé na liderança de nossas escolas, organizações religiosas e governos. Parafraseando um artigo de 1990 na Business Week, se os marcianos descessem em algum lugar dos EUA e exigissem que os levássemos a nossos líderes, teríamos de pensar duas vezes sobre onde levá-los. Esta questão, é claro, não se restringe as organizações americanas. No mundo inteiro, as corporações chegam ao século XXI com um grave déficit de dirigentes empresariais preparados para lidar com as complexidades, com a volatilidade e as novas regras do mercado global.

Uma crise de desenvolvimento de liderança
Baseado em minhas entrevistas com centenas de diretores-presidentes de empresas Fortune 500 e outros altos executivos durante os últimos treze anos, assim como nos resultados de quatro pesquisas quantitativas conduzidas por minha empresa durante o mesmo espaço de tempo, afirmo que esta crise de liderança é na realidade uma crise de desenvolvimento de liderança. É esta crise de desenvolvimento que me leva a concordar que nossos líderes estão ‘falhando na ação’. Acredito que os dois principais fatores de treinamento e desenvolvimento provocaram esta crise. Primeiro os métodos tradicionais utilizados para treinar e educar executivos não rnantiveram o ritmo das monumentais mudanças que ocorriam no mundo e, em segundo lugar, as experiências e o desenvolvimento na função não produziram a liderança que nossas organizações precisavam.

Educação executiva e treinamento de liderança ultrapassados
O fato de os métodos de educação executiva e treinamento de liderança estarem ultrapassados não significa que as atitudes com respeito à educação executiva permaneceram estáticas. Nossas pesquisas confirmam que a educação executiva, outrora relegada as linhas laterais, tornou-se uma prioridade da empresa. Elas também mostram que o ímpeto mais eficiente por trás desta exaltação é a influência da competição global. Diante da necessidade de novos padrões de produtividade, eficácia nos custos, qualidade e necessidade de reformar as culturas empresariais com novos valores, estilos gerenciais e estratégias empresariais, empresas com visão de futuro voltaram-se cada vez mais para programas internos e personalizados de educação de executivos, a fim de ajudá-los a alcançar seus objetivos estratégicos e agirem como catalisadores da mudança organizacional.
Em suma, os esforços de desenvolvimento nas principais corporações são agora estratégicos: estão mais freqüentemente direcionados para a geração de recursos necessários aos executivos, de modo a favorecer a liderança nos ambientes turbulentos e passiveis de rápidas mudanças em que atuam. Além disso, aqueles que responderam a pesquisa classificam de modo consistente a liderança como a mais alta prioridade no desenvolvimento de executivos.
Apesar desta exacerbada atenção, insisto em que os métodos de treinamento empregados pela maioria das corporações — e mais ainda, aqueles utilizados nas universidades e outras instituições — não resultam e não resultarão na liderança que precisamos e desejamos. Para a maior parte, os prováveis líderes recebem a mesma educação que seus antecessores a educação apropriada as exigências de uma outra época. A seguir, encontram-se algumas das principais falhas dos atuais programas de desenvolvimento de executivos e da liderança:
  1. O treinamento não é completo. Em seu trabalho de 1989, The managerial mystique (A mística gerencial), Abraham Zaleznik, professor da Faculdade de Administração de Harvard, escreveu que liderança é feita de “solidez, qualidade humana e princípios morais. Infelizmente, estamos em falta destas três qualidades em nossas vidas coletivas” (p.124). A educação executiva concentrou-se basicamente em habilidades profissionais. Da mesma forma, grande parte dos seminários de liderança apresentou este assunto como uma questão isolada, distante dos desafios individuais e profissionais que os executivos enfrentavam, sugerindo que a liderança podia ser simplesmente acrescentada as outras habilidades, de modo muito semelhante ao rápido aprendizado de uma língua estrangeira antes de viajar. Este limitado treinamento resulta em líderes não plenamente desenvolvidos. Os executivos em busca de um pacote completo de desenvolvimento precisam quase sempre adquiri-lo por etapas. Para desenvolver habilidades de liderança, eles podem fazer cursos oferecidos por empresas de treinamento gerencial. Para melhorar as habilidades profissionais, poderiam passar um verão em um programa executivo universitário. Esta abordagem ad hoc é inevitável.
  2. O treinamento oferece ‘um remédio rápido’. Acreditar que liderança pode ser desenvolvida através de um seminário isolado, com duração de um dia ou uma semana, é irrealismo. Para ser eficaz, o treinamento deve ser contínuo e de longo prazo.
  3. O treinamento é genérico e ultrapassado. Ate bem pouco tempo, os programas universitários quase sempre ignoravam problemas reais. Um recente artigo da Business Week apontava a falta de relevância nos programas de educação executiva oferecidos por algumas das universidades de maior prestígio mundial: “eles [os gerentes participantes] reclamaram bastante por terem de debater antiquados estudos de caso dos anos 70, os quais julgavam de pouca relevância para o mundo atual. Alguns se queixavam de que os casos que eles tinham estudado há mais ou menos 20 anos, como alunos do MBA, ainda estavam sendo ensinados”. Programas mini-MBA também costumam ser muito genéricos, carecendo de uma base estratégica e agendas significativas. Poucas abordagens dão aos participantes a oportunidade de integrar o conteúdo de um programa em questões próprias de suas organizações. O aprendizado, portanto, tende a permanecer conceitual, pois os executivos jamais têm chance de colocá-lo em prática.
  4. O treinamento ignora a liderança. Uma das reclamações fundamentais de Zaleznik é que muitos dos supostos programas de treinamento de liderança são na verdade programas de treinamento gerencial, tendendo a ser orientados funcional e tecnicamente. Nossos programas de MBA em nível de graduação e profissional têm resultado em legiões de gerentes impecavelmente qualificados com extraordinárias habilidades gerenciais e quantitativas. Estes executivos descobrem, mais tarde, que foram preparados para gerenciar mas jamais foi dada a chance de aprender a liderar.
Desenvolvimento na função
Muitos acreditam que aproximadamente 80 por cento de um desenvolvimento executivo típico é o resultado de uma experiência na função. Infelizmente, esta experiência tem favorecido historicamente habilidades gerenciais em vez de habilidades de liderança. Em grande parte, nossos gerentes desenvolveram estas habilidades por acaso, através da escola do sofrimento. Outrossim, eles são produto de um sistema que proporciona poucas oportunidades de desenvolver habilidades de liderança na função. Estes executivos são parte de um sistema que confunde gerência com liderança. Warren Bennis faz uma clara distinção entre as duas. Gerentes, segundo ele, estão mais envolvidos em como fazer, com o curto prazo e com os resultados financeiros, enquanto os lílderes devem ter visão, missão, intenção estratégica e sonhos.
O mundo é rico em gerentes excepcionalmente talentosos. Grande parte do desenvolvimento na função produz executivos unidimensionais com demasiadas habilidades quantitativas e analíticas desenvolvidas. Eles possuem uma estreita perspectiva funcional-técnica como resultado de dedicarem toda a carreira a uma área. Com freqüência, eles têm aversão ao risco – medo de tomar decisões — em virtude das graves conseqüências de cometer erros, e costumam imitar os chefes a fim de garantir uma promoção. Quase sempre são negligentes com a família e os amigos para atender às exigências de um sistema que, muitas vezes, incentiva e recompensa a obsessão pelo trabalho.
Poucos possuem qualquer experiência profissional fora do país. Com um estreito foco doméstico, estes executivos refletem o etnocentrismo. Muitos aprenderam que é mais desejável estar no país de origem, onde não se arriscarão a serem esquecidos. As designações internacionais, na verdade, são vistas muitas vezes como prejudiciais à carreira. Gerentes que aceitam designações internacionais acham muito difícil voltar para um cargo de nível apropriado ou para um que faça uso de sua experiência internacional. “Algumas empresas bastante conhecidas”, escreve John Kotter em O fator de liderança, chegaram a usar suas operações internacionais para descarregar gerentes fracassados” (p. 128).
“Apto para gerenciar mas incapaz de liderar” é uma característica própria destes executivos. Quando assumem posições de liderança, o estilo é muitas vezes tradicional e autoritário, revelado pela necessidade de e supercontrolar, de ser visto como um especialista em tudo, de resolver todos os problemas, tomar todas as decisões e manter o controle. Aprenderam com a própria experiência que é isto que funciona. É indiscutível que o sistema de treinamento e desenvolvimento na função produz gerentes capazes. Mas estamos agora em meio a um mundo onde mesmo o melhor é ineficaz, a menos que também possa liderar.

Liderança tridimensional: o novo imperativo
No lugar de um sistema que costumava produzir gerentes unidimensionais, proponho uma estrutura de desenvolvimento de liderança holística e tridimensional, um processo abrangente que reconhece que executivos precisam de raciocínio, conhecimento e habilidades bastante diferentes daqueles do passado. A estrutura tridimensional pressupõe o desenvolvimento de habilidades profissionais, de liderança e de eficácia pessoal. (Veja Figura 17.1.) Cada um destes é um elemento igualmente essencial da equação de liderança. Não basta ser um perfeito especialista no negócio; um executivo também deve ser um excelente líder, possuindo ao mesmo tempo excepcionais habilidades de eficácia pessoal.

Figura 17.1 A Estrutura Tridimensional

Tradicionalmente, a dimensão profissional tem sido o foco de grande parte do desenvolvimento executivo. A estrutura tridimensional não reduz esta importância; ao contrário, ela fortalece a liderança e as dimensões pessoais para equilibrar e integrar as três áreas. Já a dimensão da liderança tem sido tradicionalmente esquecida na educação executiva, porque muitas pessoas presumem que não pode ser ensinada — ou você nasce com ela ou não. Continua sendo um tópico controvertido no treinamento executivo. A dimensão pessoal tem sofrido em virtude da visão muito difundida de que os temas profissional e pessoal devem ser separados. Ela tem sido ignorada por causa da cultura empresarial que recompensa pessoas consumidas pela atividade. Está baseada na idéia tola de que facilmente deixamos os assuntos pessoais e familiares na soleira da porta quando chegamos ao trabalho, e depois deixamos os assuntos profissionais e os desgastes do escritório quando saímos. Um absurdo! Na vida real, tudo nos chega de uma só vez e é assim que temos de lidar com isso.
Líderes verdadeiros devem desenvolver todas as facetas de seu potencial a fim de liderar, não apenas os exíguos aspectos necessários para gerenciar. Jack Sparks, presidente aposentado da Whirlpool Corporation, disse que futuros diretores-executivos não podem ter as cabeças enterradas em uma pasta, tubo de ensaio ou computador.
A dimensão profissional se desenvolve provendo os executivos de recursos necessários a identificar desafios profissionais críticos e a lidar com eles. Esta dimensão do modelo tridimensional começa onde grande pane dos currículos tipo MBA termina — abordando questões que os futuros diretores-presidentes precisarão enfrentar. As áreas de desenvolvimento poderiam incluir a criação de novos tipos de organizações, a construção de organizações voltadas para o mercado e para o cliente, a institucionalização da liderança pela qualidade total, a liderança de mudanças, métodos de vencer no mercado global, a criação de uma nova organização voltada para o aprendizado, o favorecimento da inovacao e da tecnologia.
A dimensão da liderança deve diferir de outras abordagens, concentrando-se no estudo de uma ampla gama de teorias e habilidades clássicas e contemporâneas. A partir deste fundamento, os executivos podem desenvolver uma expressão pessoal da liderança, baseada na integridade e na autenticidade. Devem aprender como personificar a liderança. Esta dimensão reconhece que a especialização sozinha não é suficiente. Ao contrário, liderança e urna combinação de competência e caráter.
A dimensão pessoal se baseia na crença de que as pessoas não podem ser líderes efetivos se forem ineficazes ern suas vidas pessoais. Os executivos devem aprender as habilidades necessárias para alcançar a excelência e a continua renovação. Esta dimensão se concentra em ajudar a esclarecer e desenvolver o objetivo, a visão, os valores e os talentos da pessoa, e a integrar metas e prioridades do trabalho em sua vida pessoal. Outros tópicos devem incluir a autodelegação (self-empowerment) e a responsabilidade pessoal; uma apreciação da natureza, da ciência, da arte e dos atributos humanos; o bem-estar físico e emocional; o desenvolvimento de uma mentalidade de aprendizado contínuo. A Figura 17.2 apresenta um exemplo de currículo que trata destas três dimensões.

Figura 17.2 A Preocupação com o Desenvolvimento na Estrutura Tridimensional.

Nota: Os desafios profissionais devem ser adaptados aos desafios específicos de sua organização.

A estrutura tridimensional é uma poderosa combinação de raciocínios, conhecimento e habilidades cujo total é muito maior do que a soma de suas partes. Um importante ingrediente é a coragem — a marca do verdadeiro líder. A coragem é imprescindível para conceber uma visão, desafiar o statu quo e assumir riscos. Ela não é o valor de atos heróicos, dizem Joseph Badaracco e Richard Ellsworth, autores de Leadership and the quest for integrity (Liderança e a busca pela integridade, 1989, p. 28) mas, ao contrário, “a coragem de fazer e dizer o que se tem como certo, em vez do que é conveniente, familiar ou popular; a coragem de agir de acordo com uma visão para [a] organização.” A coragem é também a capacidade de admitir as próprias falhas e reconhecer a necessidade de um desenvolvimento e um aprendizado contínuos. A coragem para admitir erros é característica de um líder que reconhece que as lições geradas pelo fracasso são tão valiosas quanto aquelas provenientes do sucesso. A estrutura tridimensional é uma abordagem prática para desbloquear esta coragem.
Evidentemente, o desenvolvimento executivo tridimensional não é comum hoje em dia; entretanto, segundo Stanley M. Davis, autor de Future perfect (Futuro perfeito, 1990, p. 56), “em 2001, quando a nova economia certamente estará amadurecida, observaremos nossa abordagem holística da administração e imaginaremos como poderia ter sido de outra forma”.

Implementando a estrutura tridimensional
Como as empresas podem usar o desenvolvimento da liderança tridimensional em seu benefício? Aqui estão cinco métodos práticos para as organizações aplicarem a estrutura tridimensional e algumas perguntas a serem feitas para orientar o desenvolvimento:

  1. Educação executiva interna. Um ponto de partida poderia ser a avaliação dos programas de educação executiva interna existentes ou o desenvolvimento de novos programas educacionais. O modelo pode ser visto como um continuum que possibilita as organizações identificarem as lacunas onde falham e onde querem estar. Quais são as falhas dos programas internos? Por exemplo, liderança e eficácia pessoal estão direcionadas de modo adequado ou os esforços estão orientados exclusivamente para as arenas técnica e profissional?
  2. Uma diretriz para programas externos. As empresas podem utilizar a estrutura tridimensional como diretriz na seleção de programas educacionais externos para seus gerentes e executivos. Os programas considerados direcionam de modo apropriado as três dimensões do desenvolvimento?
  3. Planejamento da sucessão. A estrutura tridimensional pode ser usada como um dos principais componentes do processo de seleção de futuros lideres. Em que grau de desenvolvimento se encontram os executivos em cada uma das três dimensões neste momento? Onde estão as lacunas? Que atribuições, experiências ou treinamento são necessários para preencher estas lacunas? A estrutura pode ser usada para ajudar de modo sistemático a preparar os executivos para futuros papéis de liderança.
  4. Um gabarito para o sistema de recursos humanas. O modelo tridimensional pode servir de gabarito para um sistema completo de recursos humanos de urna organização. Pode ser empregado como base para recrutamento, adrnissäo, demissão, planejamento da sucessão, promoções e incentivos. Se desejamos executivos tridimensionais, por que não contratar, promover e recompensar pessoas que estejam o mais próximo possível do modelo?
  5. Um instrumento de auto-avaliação. Os executivos são insistentemente recomendados a conduzir auto-avaliações para verificar como se saem como líderes. Eles podem utilizar o continuum na Tabela 17.1 para fazer a própria classificação nas três dimensões. Também podem buscar feedback com pessoas suficientemente instruídas e honestas para fornecerem opiniões francas, com o objetivo de identificar as lacunas do desenvolvimento individual. Após esta auto-análise, um plano pessoal de autodesenvolvimento pode ser elaborado com o objetivo de preencher as lacunas do desenvolvimento identificadas na auto-avaliação baseada na estrutura tridimensional. O departamento de recursos humanos pode ser útil na identificação de experiências específicas de desenvolvimento para tratar dessas lacunas.

Tabela 17.1 O Executivo Tridimensional: Um Continuum

Observe o horizonte
A sobrevivência empresarial, é evidente, está diretamente relacionada a nossa vontade de cultivar líderes. A liderança é o fator que determinar de forma decisiva nosso sucesso ou fracasso. As organizações não mais poderão repousar somente na superioridade tecnológica para atingir o domínio econômico; rápidas mudanças na tecnologia tornam obsoleto o que apenas ontem era considerado vanguarda. A estrutura tridimensional reconhece que nossa força deve derivar da força das pessoas. Ela reconhece que grande parte das pessoas usa apenas uma fração de seu potencial para liderar e que os desafios enfrentados por nossas organizações requerem o pleno desenvolvimento e a manifestação de uma gama de recursos de liderança. A estrutura tridimensional coloca uma torturante questão: pode o talento da liderança ser uma fonte de vantagem competitiva?

James F. Bolt é presidente e fundador da Executive Development Associates (EDA), uma conceituada de empresa de consultoria especializada no projeto de educação personalizada de executivos e em programas de desenvolvimento de liderança que apóiem diretamente a estratégia empresarial. Antes de fundar a EDA, Bolt esteve na Xerox Corporation por mais de 16 anos, onde era responsável, em toda a empresa, pela educação executiva, treinamento gerencial e planejamento da sucessão de executivos. Bolt é autor de Executive development: a strategy for corporate competitiveness (Desenvolvimento de executivos: uma estratégia para a competitividade empresarial).

Novas Habilidades para Novos Papéis de Liderança

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Caela Farren e Beverly L. Kaye
Durante os últimos 25 anos, testemunhamos um período de drásticas mudanças em âmbito global. O antigo bloco soviético caiu em desordem. Nossos antigos pesadelos de um Armagedon[1] foram aparentemente afastados. As tecnologias de informação e de comunicação estão se fundindo em um sistema nervoso eletrônico que abrange o mundo todo. Epidemias letais de vírus e violência fogem ao controle. A interdependência aumentou muito: na década de 70, ela fez com que os países integrantes da OPEP agitassem a economia mundial; em 1995, um único especulador financeiro, operador e supervisor das próprias transações, levou o mercado financeiro mundial ao pânico com um modem. Somos todos passageiros na mesma frágil embarcação, arremessados por uma agitada maré de incertezas em direção às rochas obscuras do próximo milênio.

Uma nova forma de trabalho
Em meio a toda esta convulsão, duas tendências ocupam importante posição em nossa discussão sobre liderança. A primeira é a natureza mutável da forma de trabalho. Estamos testemunhando uma transformação tão básica e profunda das condições do trabalho humano somente comparável, quanto ao impacto, à introdução da agricultura ou a revolução industrial. A manufatura de precisão, que antes exigia o empenho de centenas de trabalhadores qualificados, pode agora ser executada com mais velocidade e exatidão por sistemas automatizados e alguns operadores treinados. As legiões de administradores e funcionários de nível médio, outrora necessários para supervisionar nossas burocracias, estão sendo substituídas por terminais interligados e um punhado de disquetes. Conseguimos manter os mais altos níveis de produtividade na história humana com menos pessoas do que em qualquer ocasião anterior.
Infelizmente, não estamos muito propensos a encontrar um uso produtivo para todos os profissionais que este processo deslocou. Sem dúvida alguma: esta é uma mudança estrutural permanente, não um ajuste econômico temporário. Centenas de milhares de cargos estão ficando obsoletos e não serão retornados. As organizações estão eliminando camadas hierárquicas e funções acessórias em uma competição acirrada, a fim de obter velocidade e flexibilidade. Muitas funções como recrutamento, administração de benefícios, distribuição de produtos e escrituração contábil estão sendo terceirizadas para fornecedores que empregam profissionais temporários ou em regime de meio-expediente. A segurança no emprego e a lealdade do empregado, antes permuta essencial da forma de trabalho americano, estão se convertendo rapidamente em conceitos arcaicos. À proporção que as expectativas tradicionais de carreira se dissipam, as pessoas se vêem colocadas no papel de artesãos independentes, em busca de quem paga mais por suas habilidades a curto prazo. Nesta nova forma de trabalho, o segredo para uma carreira bem-sucedida reside em escolher um ofício ou profissão, desenvolver uma carteira de aptidões negociáveis dentro dela e depois procurar oportunidades de aplicá-los com fins empresariais específicos.
Uma segunda importante tendência é o desgaste da confiança na tradicional liderança ou, talvez, mais objetivamente um desgaste da confiança na casta gerencial, a qual ocupa posições estruturais que exigem liderança, mas não a fornecem. Cercadas por ondas de mudança social e econômica, as pessoas buscam respostas em suas habituais fontes de liderança e não estão conseguindo obtê-las, pelo menos não de forma satisfatória. Infelizmente, difícil citar uma instituição maior que não tenha sido desacreditada pelo escândalo e atingida pela discordância durante os últimos 25 anos. Presidentes e generais, comandantes da indústria e comissários, heróis dos esportes e reformadores sociais tem sido expostos a decepções tanto grandes quanto insignificantes. Cada novo escândalo é aumentado e mastigado pela insaciável máquina da mídia, provocando náuseas.
Quando olhamos para os líderes que nomeamos em busca de orientação, quase sempre as respostas são superficiais, míopes ou automáticas. Parece que desejamos obter deles remédios e soluções rápidas, por vezes insensatos. Ao contrário, o que talvez obtemos são ‘porta-vozes’, que oferecem lemas e paliativos com o objetivo de manipular nossa percepção dos problemas, em vez de oferecer soluções eficazes para eles. Nas duas últimas eleições nacionais dos EUA, o publico expressou seu desagrado quanto a liderança estabelecida através de uma votação esmagadora contra os atuais políticos que se identificavam com ‘tudo continuará normalmente apesar dos contratempos’. O povo está muito menos propenso a confiar nos pronunciamentos ou motivos das autoridades porque suas expectativas mais básicas tem sido constantemente frustradas.
Fora da arena pública, encontramos espalhado este mesmo descontentamento. Esta insatisfação está se manifestando de forma crescente através de mudanças na estrutura das organizações nas quais os dirigentes devem praticar seu ofício. As estruturas organizacionais tradicionais, caracterizadas por formas autocráticas nas quais os trabalhadores eram dirigidos ou ‘instruídos’ sobre o que, como e quando fazer (com nenhuma, se tanto, atenção a por que fazer), estão dando passagem a formas democráticas de organizações, caracterizadas por um estilo participativo e cooperativo. Os trabalhadores estão exigindo voz nas decisões e nos processos decisórios que os afetam. Ser um líder verdadeiro neste ambiente requer uma abordagem e um conjunto de habilidades completamente diferentes. Quando a liderança é distribuída entre uma força de trabalho intimamente ligada, a coordenação e o controle deixam de ser funções de mão-de-obra intensiva, que exigem uma classe especial de mandarins. À medida que a forma de trabalho se transforma, o mesmo ocorre com a natureza da liderança empresarial. Este novo ambiente de trabalho levanta uma importante questão: se a função primordial do líder não é mais ‘dizer’ aos trabalhadores como fazer o trabaiho deles, qual é a função dele nesta nova disposição participativa?

Desenvolvendo carreiras para alavancar a liderança
Se os apelos à tradicional autoridade são provavelmente vistos com ceticismo ou ressentimento, o que legitima o exercício da liderança na nova forma de trabalho? Colocando esta pergunta de outra forma, como alguém pode conduzir um grupo estando dentro dele em vez de acima dele? Não podemos mais admitir a coincidência de interesses entre o trabalhador e a organização, mas com um pouco de habilidade, podemos criar uma mutualidade de interesses. Se aceitarmos a premissa de que as pessoas são, em essência, fornecedoras dos próprios serviços, a chave para obter cooperação é desenvolver projetos participativos que lhes ampliem as habilidades profissionais, fazendo progredir, ao mesmo tempo, os objetivos estratégicos da organização. As pessoas trabalharão com mais entusiasmo em um projeto que claramente beneficiará suas carreiras. O foco da arte da liderança se desloca de dirigir e instruir, para facilitar e habilitar.
Existem muitas maneiras e oportunidades de ajudar as pessoas a desenvolverem suas carreiras. Estas ações podem ser divididas em cinco amplas categorias descritas a seguir. Cada categoria é um papel distinto de liderança que corresponde a um estágio diferente do processo de desenvolvimento de carreira. Estes papéis são facilitador, avaliador, ‘realizador de previsões’, conselheiro e habilitador. Para atrair os interesses de carreira das pessoas como base para liderança, torna-se necessário ser perito nestas cinco funções.

1. Facilitador
  • Ajuda a identificar os valores das carreiras, interesses profissionais e habilidades negociáveis das pessoas.
  • Ajuda as pessoas a reconhecerem a importância de um planejamento de carreira de longo prazo.
  • Desenvolve um clima aberto e receptivo no qual as pessoas podem discutir suas preocupações com a carreira.
  • Ajuda as pessoas a entenderem e articularem o que desejam de suas carreiras.
2. Avaliador
  • Fornece feedback honesto aos membros da equipe quanto ao desempenho e a reputação deles.
  • Esclarece os padrões e as expectativas segundo os quais o desempenho será avaliado.
  • Ouve as pessoas para aprender o que é importante para elas quanto a atual função e suas esperanças de melhorá-la.
  • Chama atenção para a relação entre desempenho, reputação e metas profissionais.
  • Sugere ações específicas que as pessoas podem tomar para melhorar o desempenho e a reputação.
3. Realizador de previsões
  • Fornece informações sobre a organização, a profissão e o segmento de mercado.
  • Ajuda as pessoas a localizarem e terem acesso a fontes adicionais de informação.
  • Chama atenção para tendências emergentes e novos avanços que possam afetar as perspectivas de carreira das pessoas.
  • Ajuda a compreender a realidade cultural e política da organização.
  • Comunica a diretriz estratégica da organização para a equipe.
4. Conselheira
  • Ajuda a identificar uma gama de metas de carreira desejáveis.
  • Ajuda as pessoas na escolha de metas profissionais sensatas.
  • Relaciona potenciais metas de carreira aos requisitos da atividade e a intenção estratégica da organização.
  • Chama atenção para possíveis fontes de apoio e para obstáculos ao a alcance das metas de carreira.
5. Habilitador
  • Ajuda a desenvolver pianos de ação detalhados para o alcance das metas de carreira.
  • Ajuda a cumprir as metas, favorecendo contatos úteis com pessoas de outras áreas do setor de mercado ou da organização.
  • Discute os recursos dos membros da equipe e as metas da carreira com outras pessoas que poderiam oferecer oportunidades no futuro.
  • Articula recursos necessários a implementação dos planos de ação de carreira.
  • Cada uma dessas funções de liderança precisa ser examinada em detalhe. No entanto, nós nos concentraremos aqui no papel do ‘realizador de previsões’.
Liderando a partir do futuro
A maior parte de nossas decisões profissionais leva em conta apenas fatores imediatos e visíveis de importância pessoal. Como conseqüência, as pessoas nem sempre conseguem ver além da função atual ou da organização como ela é no presente, para observar tendências críticas que estejam ocorrendo nos sistemas maiores dos quais também são membros. Esta perspectiva era suficiente quando as pessoas realmente tinham expectativa de trabalhar para um único empregador por 20 ou 30 anos. Hoje em dia, entretanto, torna-se imperativo analisarmos a gama mais ampla de sistemas que afetam nossa carreira. Apenas uma visão panorâmica do presente pode abranger todos os fatores necessários para prever mudanças e planejar o futuro de forma eficaz. A contribuição vital do ‘realizador de previsões’ em termos de liderança é ajudar os demais a alcançarem esta expansão da consciência. Isto se realiza através da prática assídua de duas habilidades direcionadas para o futuro: observar tendências e prever.
Observar tendências consiste em prestar muita atenção a novos ou inesperados avanços no ambiente de trabalho da equipe e especular sobre a possibilidade de afetarem as opções de carreira das pessoas. Alguns destes avanços podem ser repentinos e extensos, como a substituição virtual da máquina de escrever pela tecnologia de processamento de texto na década de 80. Outros são gradativos, como a aposentadoria próxima de um colega sênior qualificado. Observar tendências é um método de pensar em como o futuro está se configurando e o que isto significara para a organização e os membros da equipe de trabalho. Para ser um observador eficaz você deve ser um eterno aprendiz, analisando reportagens e jornais profissionais ou do setor de mercado, e examinando a cultura e as pessoas que o rodeiam em busca de indícios do novo e do que previamente é irreconhecível. Cinco níveis distintos de sistemas devem ser esmiuçados pelo observador aspirante: setores de mercado, profissões, organizações, cargos e pessoas.

Setores de mercado
Os setores de mercado são grupos de organizações que fornecem produtos e serviços para atender a uma necessidade humana comum. Eles existem porque exigimos determinados itens básicos para cuidar de nós mesmos e dos outros. As pessoas, por exemplo, precisam viajar de um lugar para outro (setor de transportes), precisam se alimentar (setores agrícola e de alimentos processados) e precisam organizar as comunidades quanto à segurança e a ordem (serviços públicos). Embora organizações individuais venham e vão de acordo com as marés da economia, as atividades industriais são tão duradouras quanto as necessidades básicas a partir das quais surgiram. Novos conhecimentos e tecnologias mudam periodicamente a maneira como as pessoas tratam de necessidades como a saúde, mas você depende da existência continua do setor de saúde enquanto as pessoas forem mortais! Portanto, concentrar-se no setor em si, como uma ovelha guia em busca das tendências significativas, é muito mais seguro do que focalizar uma única organização.
Uma segunda característica útil dos setores de mercado para os observadores de tendências provém diretamente desta propriedade essencial das atividades industriais: elas mudam lentamente. Leva tempo para que um novo paradigma de tecnologia penetre um setor industrial. Você pode identificar e se preparar para as tendências de mercado mais facilmente do que para progressos no ambiente acelerado das organizações individuais. Mesmo na indústria de informática, um exemplo de rápida transformação, as competências principais exigidas por qualquer segmento mudam mais rapidamente do que aquelas do setor como um todo.
Infelizmente, poucas pessoas acompanham de modo apropriado as tendências emergentes nos próprios setores de mercado, quanto mais em outros. Na verdade, quando perguntadas, as equipes de trabalho têm dificuldade de chegar a um acordo sobre em qual setor as próprias organizações se inserem! Esta falta de clareza é perturbadora do ponto de vista da liderança e do desenvolvimento da organização. Isto revela que as pessoas não reconhecerão mudanças críticas em seus setores de mercado até que tenham chegado ao ponto em que a organização seja forçada a reagir a elas. As organizações também estão atormentadas com essa falta de atenção as tendências do mercado. Admite-se que, frequentemente, segmentos inteiros da força de trabalho fiquem para trás em relação aos padrões de mercado, até que chega o dia em que são demitidos em lotes por atacado. Isto acarreta um imenso custo no moral e na produtividade, assim como a perda de uma experiência insubstituível. A observação de tendências é uma importante habilidade de liderança, exatamente porque pode ajudar a impedir esta grande dispersão de esforços, encorajando as pessoas a se prepararem para novos avanços no setor de mercado.

Profissões
Uma profissão é um ofício ou disciplina com uma história própria, competências principais, padrões reconhecidos de prática e profissionais especializados. A educação formal, ou treinamento, e um prolongado período de aprendizagem são geralmente necessários para atingir o domínio de uma profissão. Diferente dos cargos individuais, que são criados e eliminados da noite para o dia, as profissões persistem por longos espaços de tempo. Elas estão, consequentemente, entre os mais estáveis métodos disponíveis para a observação de tendências. A viabilidade de uma profissão em uma determinada organização depende do fato de esta profissão contribuir ou não para as competências essenciais. Se a organização depende diretamente das competências principais de uma profissão para realizar sua missão, os profissionais desta área possuem um horizonte de planejamento mais longo para suas carreiras. Aqueles cujas profissões contribuem para competências secundárias à missão central da organização devem ser aconselhados a planejar a carreira em termos de crescimento na profissão, em vez de na organização. Por esta razão é sempre aconselhável estar atento as tendências nas profissões e considerar o relacionamento dessas tendências com os objetivos estratégicos da organização.
Levando em conta a tendência para organizações menores, com estruturas mais horizontais, poucas pessoas podem realmente esperar continuar ascendendo na organização para funções com responsabilidades e privilégios cada vez maiores. O crescimento em uma profissão é uma alternativa compensatória para o desenvolvimento de carreira que um líder pode usar para obter a cooperação voluntária dos membros da equipe. Enorme satisfação e auto-estima podem ser encontradas no desenvolvimento da excelência em um ofício escolhido. Estar atualizado em relação aos últimos avanços de um campo profissional é um processo de aprendizado contínuo que mantém a mente aberta e as habilidades aprimoradas. Adquirir novas competências em uma profissão aumenta a carteira de competências negociáveis dos membros de sua equipe.
As profissões tarnbém oferecem a vantagem da interligação. Profissões estabelecidas geralmente promovem redes de contatos entre os profissionais. Estes contatos ocorrem através de vários fóruns, entre eles conferências, jornais e outras publicações, quadros de avisos eletrônicos e associações profissionais. A participação em redes profissionais interliga especialistas, informações e recursos da carreira, além das fronteiras da atual organização. As redes são recursos valiosos para o dedicado observador de tendências.

Organizações
As organizações correspondem ao nível do sistema de trabalho em que as pessoas mais pensam quando planejam a carreira. Isto é compreensível — organizações são tangíveis e específicas, enquanto setores de mercado e profissões são abstratos. Todavia, paradoxalmente, elas estão em geral entre os elementos menos estáveis de todo o sistema de carreira e trabalho quando se trata de observação de tendências. Como conseqüência das turbulentas condições anteriormente mencionadas, as organizações mudam com muita rapidez e deixam de ser indicadores seguros do futuro. A missão central de uma organização pode permanecer estável através do tempo, mas cargos específicos e subunidades funcionais podem desaparecer da noite para o dia. Os líderes devem incentivar as pessoas a planejarem o futuro em uma determinada organização flexível e contingente. É importante levar em conta para onde a organização está se dirigindo, mas estar preparado para mudanças e reversões não anunciadas.
A observação eficaz de tendências em uma organização requer habilidades políticas. É fundamental cultivar uma rede de contatos para ampliar suas fontes de informação. Fique a par dos acontecimentos que ocorrem por toda parte na organização de modo a antecipar mudanças na estrutura de poder e nas diretrizes estratégicas. Monitore as potencialidades e as deficiências globais da organização e de suas várias unidades de trabalho. Avanços fora de sua área de trabalho imediata podem limitar ou aumentar as oportunidades de carreira para os membros de sua equipe.

Cargos
Quando planejamos nosso futuro, costumamos pensar em termos de cargos específicos. Esta associação, a princípio tão simples, esconde uma perigosa armadilha. Os cargos são, na verdade, o contexto menos durável e estável do planejamento de carreira. À proporção que mais organizações rumam em direção às equipes autodirigidas como unidade de trabalho básica, os cargos se tornam menos distintos. Deste modo, a tendência a ser observada com respeito ao trabalho reside em localizar onde as oportunidades para determinados tipos de aprendizado podem estar disponíveis.
Em períodos de rápidas mudanças, os cargos são oportunidades temporárias para adquirir experiência, conhecimento, competências e contatos. Estes bens portáteis podem depois ser aplicados a planos de carreira baseados nos sistemas mais estáveis dos setores de mercado e das profissões. Leva tempo para aprender em um cargo e para criar um currículo de realizações. Todavia, como os cargos são muito efêmeros, o tempo é um recurso precário. Oferecendo as pessoas uma chance para desenvolverem suas potencialidades em áreas específicas que as prepararão para o futuro, o trabalho se torna um incentivo em si mesmo.

Pessoas
O planejamento de carreira é apenas um aspecto de um processo maior do planejamento de vida. As decisões que as pessoas tornam com respeito a carreira devem refletir um futuro que elas projetaram, baseado em um autoconhecimento realista. O líder, como facilitador, ajuda as pessoas a atingirem este conhecimento. Como ‘realizador de previsões’, ele busca determinadas tendências em cada desenvolvimento do indivíduo, com implicações para seu papel no futuro da equipe de trabalho.
Que aspectos da pessoa são pertinentes a observação de tendências? O estágio de desenvolvimento pessoal é um fator que deve seguramente ser considerado. Anteriormente observamos que os setores industriais e as profissões nascem do terreno das necessidades humanas básicas. Estas necessidades têm suas raízes em alguns desafios fundamentais da vida, que todo adulto precisa enfrentar de alguma maneira, entre eles saúde, habitação, lazer, trabalho e família. Embora estes desafios sejam constantes em nossas vidas, nossas necessidades em cada área evoluem e se modificam com o tempo. Os riscos que nos divertem durante os dias de descoberta juvenil talvez não sejam bem-vindos, mais tarde, em nossa carreira. Uma paixão pela realização pessoal pode evoluir para o desejo de orientar um sucessor a dar continuidade ao trabalho. À medida que os membros da família envelhecem, talvez seja necessário dedicar mais tempo em casa, cuidando deles, e menos no trabalho, solucionando problemas. Quando você pensa em como será sua vida daqui a 10 ou 20 anos, você pode antever algumas prováveis mudanças em suas circunstâncias e necessidades. Seus planos de carreira devem ser coerentes com estas tendências. Como líder, você pode ajudar as pessoas a direcionarem seus esforços às tarefas que as prepararão para o que desejam ou esperam acontecer em suas vidas no futuro.
Outro fator pessoal a ser considerado é a carteira de competências e habilidades de um profissional. Competências são áreas genéricas de proficiência, ao passo que habilidades são ações ou atividades específicas que apóiam uma competência global. Competências e habilidades são, de certa forma, análogas às profissões e aos cargos. As competências costumam ser duradouras e requerem anos de aprendizado contínuo para alcançar seu domínio; as habilidades são orientadas para tarefas de curto prazo. Por exemplo, a programação de computadores é uma área de competência; a familiaridade com linguagens de programação como Cobol ou C é um conjunto de habilidades distintas. A competência da programação persiste, enquanto as linguagens de programação específicas vêm e vão à proporção que a tecnologia muda. Em grande parte das organizações e profissões, um limitado número de competências é absolutamente essencial para o sucesso e outras são apenas ‘desejáveis’. Como ‘realizador de previsões’, você pode ajudar as pessoas a analisarem as competências necessárias a seu desenvolvimento, a fim de que mantenham ou aumentem sua negociabilidade.
Observar tendências em cada um dos cinco níveis acima explicados é uma habilidade vital para o líder enquanto ‘realizador de previsões’. Ela exige uma disposição para buscar pessoas, informações e outros recursos assim como uma dose saudável de imaginação. Todavia, a observação de tendências depende da interpretação do que já está ocorrendo ou é provável que aconteça. Os ‘realizadores de previsões’ também precisam de uma outra habilidade de liderança voltada para o futuro. Devem ser capazes de antever o que parece impossível sob as circunstâncias presentes e obter a participação dos outros para transformá-lo em realidade.
Gary Hamel e C. K. Prahalad, na discussão sobre intenção estratégica em Competing for the future (Competindo pelo futuro), fornecem numerosos exemplos deste processo em ação. Quando a Canon era um secundário fabricante japonês de equipamentos fotográficos, estabeleceu a meta aparentemente absurda de quebrar o domínio global da Xerox no campo das fotocopiadoras. A Canon não apenas foi bem-sucedida neste quixotesco empreendimento como continuou a repeti-lo, patenteando e licenciando grandes descobertas em áreas correlatas como a tecnologia de impressoras a laser. Uma visão do futuro, que seja bastante estimulante e abrangente para absorver os melhores esforços de homens e mulheres compromissados, pode literalmente nos levar à lua. O papel do líder como ‘realizador de previsöes’ é articular um futuro cheio de possibilidades emocionantes, no qual ninguém descansará até que seja realizado. Nenhuma das tendências atuais leva fatalmente a este futuro imaginado — ele exige um grande esforço de fé e uma impiedosa quantidade de trabalho árduo.
Aqui concluímos o que talvez seja a mais indispensável de todas as funções de liderança. Líderes são pontes que ligam pessoas ao futuro. Eles incorporam as visões dos outros a própria visão, formando alianças e parcerias baseadas em aspirações compartilhadas. Assumir uma visão de longo alcance nos tornará líderes mais eficazes hoje, e nos conduzirá, por tempos incertos, ao futuro que desejamos criar.

[1] Armagedom é o nome hebraico (bíblico) do lugar onde os três espíritos imundos hão de congregar os reis do mundo inteiro para a batalha no grande dia de Deus todo poderoso. O nome significa ‘monte de Magedo’, parte sul do Carmelo onde ficava o clássico campo de batalha da Palestina. Quando as pessoas se referem ao Armagedon, querem dizer uma batalha final e decisiva, apocalíptica (N. da T.).

Caela Farren é diretora-presidente da Farren Associates, em Annandale, Virginia, e sócia fundadora da Career Systems, uma das principais editoras de produtos e serviços de desenvolvimento de carreira. Beverly L. Kaye é diretora-presidente da Beverly Kaye and Associates e vice-presidente da Career Systems, da qual também é co-fundadora. E a autora de Up is not the only way (Para cima não é o único caminho). Caela e Beverly são co-autoras de Deszning Career development systems (Como projetar sistemas de desenvolvimento de carreira).

A Suprema Tarefa da Liderança

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Richard J. Leider

A Autoliderança
Vivemos em uma época de reengenharia organizacional. Para se tornarem ou permanecerem competitivos, os líderes muitas vezes precisam realizar melhorias através da mudança radical, ou reengenharia. No contexto da mudança radical, que responsabilidade de carreira os líderes têm com seus seguidores? Como podem obter energia ilimitada e agilidade no desempenho, sem que também tenham desenvolvido um novo tipo de relacionamento com os empregados? E como podem construir relacionamentos eficazes, sem que se relacionem de forma eficaz consigo mesmos por meio da autoliderança?

As pessoas são a parte difícil
Pessoas não podem ser reestruturadas. Organizações não podem forçar as pessoas a ter mais autonomia (empowerment) e os líderes não podem dar essa autonomia às pessoas no intuito de se tornarem inovadoras ou corajosas, ou de escolherem cursos de ação desconhecidos ou desconfortáveis. As pessoas devem dar autonomia a si mesmas. Somente elas podem escolher uma nova direção a tomar ou arriscar a reputação de suas carreiras para realizar uma nova visão, pois toda mudança é uma mudança de si mesmo. Toda reengenharia exige grandes escolhas relativas à autoliderança.
Por estas razões, e porque os seres humanos são humanos, eles têm dificuldade de alcançar o domínio da mudança. Muitas organizações e seus dirigentes descobriram que “as pessoas são a parte difícil” ao desenvolverem a mudança radical. Frequentemente, os líderes costumam fugir do lado humano no gerenciamento da mudança, pois o aspecto pessoal da empresa não é o forte deles. Eles se sentem mais à vontade com tarefas técnicas ou financeiras do que com as questões humanas. Costumam dizer: “Não quero entrar nessas questões humanas. Só quero obter resultados”.
Eu concordo. Mas duas décadas de trabalho com dirigentes durante situações de mudança convenceram-me de três coisas:
  1. Toda mudança é uma mudança de si mesmo. Você não pode obter os resultados que precisa hoje sem entrar neste ‘tema humano’. Toda mudança é uma escolha. Não existe uma maneira refinada e caprichosa de fazer mudanças.
  2. Com a mudança de si mesmo você se emociona. Não é necessário ser formado em psicologia para ajudar as pessoas a se ajudarem. Isto requer a arte da liderança de pessoas para fazê-las se sentirem ouvidas. Isto requer ‘aquela questão humana’ — seu coração (heart). A palavra heart é formada por duas palavras: ouvir (hear) e arte (art). A essência do processo de mudança reside na arte de ouvir. Isto é absolutamente indispensável a mudança.
  3. Mudança requer autoliderança. Nos anos 90, a tendência é que todos tenhamos mais responsabilidade, assumindo mais controle de nossas vidas. Os líderes devem olhar constantemente para dentro de si mesmos a fim de decidir o que querem, o que valorizam e o que estão dispostos a enfrentar.
A verdadeira mudança depende da motivação e da autoliderança tanto dos líderes quanto dos seguidores. Um elemento crítico para sustentar qualquer iniciativa de mudança é deixar predominar a motivação e os talentos de todos e oferecer apoio para que sejam utilizados de modo eficaz na organização. Mesmo no novo mundo das equipes, a escolha individual permanece a chave para desenvolver equipes de alto desempenho. Você não pode formar uma grande equipe tendo como base um amontoado de componentes passivos.

A realidade da nova carreira: VOCÊ Ltda.
Diante da mudança radical, o trabalho hoje não é mais trabalhar para muitas pessoas. Empregados em todos os níveis, em grandes e pequenas empresas, não sabem mais a quem pertencem, ou mesmo se pertencem. Pessoas que sempre presumiram que suas organizações ‘cuidariam delas’, não estão preparadas para quando as novas realidades empresariais transformarem a seguranca no emprego em uma nova realidade de carreira – VOCÊ Ltda. Elas agora trabalham primeiro para si mesmas e, depois, para suas organizações.
Freqüentemente as pessoas reclamam que seu trabalho, que antes adoravam, tornou-se enfadonho. Ou que estão fazendo o dobro do que faziam antes, embora gostando muito menos. Contudo, estão relutando em externar estas queixas para os dirigentes de suas organizações porque se sentem vulneráveis. Os novos ‘intra-empresários’ questionam o significado do que estão fazendo e se sentem pouco fiéis à autoridade empresarial, embora queiram colaborar com seus talentos. Eles estão naturalmente oprimidos, frustrados e cansados de viver no ‘pós-choque’ da mudança. São céticos com relação aos novos dirigentes, que são adotados como panacéia universal para todas as moléstias da organização.
Trocar a dependência da carreira pela autoliderança na carreira não é apenas imperativo, mas também inevitável nas organizações reestruturadas de hoje. O líder que consegue admitir esta troca essencial para VOCÊ Ltda., e constrói a partir dela, possui uma imensa vantagem estratégica no recrutamento de talentos para um local de trabalho que seja preferido por muitos. E locais de trabalho prediletos atrairão profissionais que se autolideram, imprescindíveis para o sucesso.

A autoliderança é a essência da liderança
A realidade da VOCÊ Ltda. requer um novo ‘contrato profissional’, sob o qual os líderes ajudam os seguidores a adquirir e desenvolver o perfeito domínio de habilidades profissionais ‘portáteis’, necessárias no século XXI, e os empregados adotam um espírito de urgência e aprendizado de desempenho competitivo. A autolideranca é o núcleo em torno do qual um novo contrato profissional é elaborado. Ele consiste em objetivo, valores, visão e coragem pessoais. É o caráter que cada pessoa trás para o papel de liderança.
A autoliderança é a essência da liderança. Ela se baseia no autoconhecirnento e na busca de conselhos confiáveis. Os líderes de um mundo mutável precisam preparar um inventário de atributos pessoais que abracem ou detenham a mudança. A menos que compreendam a visão que os motiva a liderar, o objetivo que os entusiasma e os valores que os investem de poder, como podem fazer escolhas corajosas em um mundo caótico?
A autolideranca é a essência de toda pessoa, equipe e mudança organizacional. A liderança visionária requer coragem. A unidade de uma equipe requer engajamento. A mudança organizacional requer mudança individual. Por conseguinte, os líderes precisam trançar, do início ao fim, o fio dourado da autolideranca através de todas as filosofias, processos, programas e ferramentas da mudança. Este conceito tão simples evoca de muitos líderes falsos acordos, que muito contrastam com tempo e os recursos que realmente dedicam a ele. Muitos líderes são vistos com muita aparência e nenhum conteúdo, ou seja, não agem de acordo com o que dizem. Os líderes devem recorrer constantemente a seus objetivos pessoais, valores, visão e coragem. Devem lidar não apenas com a ameaça externa do fracasso competitivo, mas também com a ameaça interna cada vez maior da falta de integridade da liderança pois, no século XXI, a autoliderança constituirá o desafio fundamental da liderança: a habilidade da sobrevivência.
Para tornar a questão ainda mais interessante, atualmente as coisas em casa também não estão fáceis para os líderes. Famílias e relações pessoais estão repletas de novos desafios para os quais os líderes não estão preparados. Grande parte deles está se dedicando mais ainda ao trabalho. Casamentos que outrora lutavam contra a ‘destruição íntima’, embora permanecendo inalterados durante anos, se romperam. (A destruição íntima é a arte de morrer sem demonstrar; o casamento parece bom por fora, mas está morto por dentro — sem vitalidade.) Os ganhos são freqüentes em uma corrida com as despesas, e as despesas parecem estar vencendo. Hoje em dia, os desafios dos líderes, em casa e no trabalho, consistem em constantes e árduos desgastes. Não é a toa que muitos deles se perguntam se tudo isto vale a pena e nem imaginam como manejá-los.
Muitos dos grandes pensadores, desde Tales (“Conhece-te a ti mesmo”) a William Shakespeare (“Para teu próprio proveito, sê verdadeiro”) e a Mahatma Gandhi (“Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo”), nos persuadiram a olhar para dentro de nós mesmos em busca de orientação de liderança. Hoje em dia, muitos líderes estão levando a sério o conselho deles, e por justa razão.

Vinte dicas para desfrutar da autoliderança
A seguir, vinte dicas para desfrutar da autolideranca hoje:
  1. A qualidade e a profundidade de nossa liderança se refletem em nossos relacionamentos com nossos colegas e seguidores; devemos ser claros sobre nosso valores pois eles revelam os líderes que realmente somos.
    Dica
    Identifique seu nível de estresse. Procure seus sintomas — falta de memória; fadiga crônica; insônia; alterações do apetite; freqüentes resfriados, dores de cabeça ou dores lombares; retraimento das relações ou freqüentes mudanças de humor. Se você não está certo de ter um problema, pergunte à família ou aos amigos se eles notaram mudanças em você.
  2. Não somos impotentes para escolher nossas condições de vida e de trabalho; temos realmente escolhas e elas representam o segredo de nossa força; a disposição para praticar nossas escolhas constitui a fonte da energia de liderança.
    Dica
    Obtenha controle onde puder. A função de um líder inclui forças desgastantes fora de seu controle. Procure áreas pessoais nas quais você assume o controle. Programe tempo para conciliar sua necessidade de praticar exercícios ou para atender a eventos familiares.
  3. Precisamos reconhecer nossos vícios para descobrir se estamos sendo verdadeiros com nossa essência ou vivendo em uma prisão auto-imposta, comandados pelas expectativas dos outros ou de nosso trabalho.
    Dica
    Equilibre seu estilo de vida. Líderes que se sentem vítimas são quase sempre perfeccionistas, idealistas ou obcecados pelo trabalho, pessoas que jamais podem realmente satisfazer-se a si mesmos. Pense em um outro campo de sua vida que gostaria de desenvolver além do trabalho — sua mente? Corpo? Espirito?
  4. Mudanças verdadeiras provêm de mudanças em nossos mapas mentais, uma grande energia surge de uma visão pessoal clara e apaixonada.
    Dica
    Procure ficar um pouco a sós todos os dias. Para esclarecer as idéias é absolutamente essencial se permitir pelo menos 15 minutos ao dia para refletir sobre a situação global, definir ou rever prioridades.
  5. Uma boa avaliação da liderança é obtida quando feita com base em nossos próprios e completos registros de nossas ações, em vez de nos registros parciais e incompletos de qualquer outra pessoa.
    Dica
    Faca o que gosta, ou procure um aconselhamento de carreira. Podemos nos esgotar fazendo o que gostamos, mas não nos queimamos nem enferrujamos. Se você estiver se queimando, talvez não goste realmente do que faz e tenha de reinventar seu trabalho.
  6. Precisamos preparar um inventário de nossos talentos de liderança se pretendemos nos beneficiar no futuro com as lições do passado.
    Dica
    Examine sua função. Durante uma semana, utilize um bloquinho no qual anotará tudo que naturalmente gosta de fazer e tudo que você detesta no trabalho. Pergunte-se honestamente, “quanto tempo gasto fazendo o que gosto naturalmente de fazer?” Depois se concentre em suas potencialidades e gerencie as fragilidades.
  7. Precisamos decidir pessoalmente com quais critérios queremos que nosso legado de liderança seja medido.
    Dica
    Retome um relacionamento com um mentor ou instrutor. Um bom instrutor pode ajudar a perceber obstáculos no seu trabalho ou na vida pessoal e oferecer uma nova perspectiva de seus valores e critérios de sucesso. Pergunte-se, “Quem são meus mestres hoje?” “Quem é a primeira pessoa que procuro em busca de orientação?”
  8. Reinventar-nos é um longo e contínuo processo de aprendizado; precisamos nos acostumar com a realidade de que a satisfação sempre leva à insatisfação.
    Dica
    Desafie-se a sair de sua zona de conforto. Busque uma posição que não seja de liderança em uma organização comunitária ou profissional. Ou submeta-se a uma experiência de aprendizado fora de seu ambiente. Risco e desafio podem recarregar suas baterias.
  9. Devemos estabelecer sólidos sistemas de apoio — um conselho administrativo pessoal — que possa nos levar pelos caprichos da mudança.
    Dica
    Eleja seu conselho administrativo. Quem são as pessoas com sabedoria e conselho pessoal que você admira? Quem você nomearia para presidir a equipe consultiva de sua vida pessoal, profissional e de liderança?
  10. Precisamos assumir riscos para dar inicio a corajosas conversações que nos manterão em diálogo direto, honesto e criativo com nossos colegas e seguidores.
    Dica
    Desista de alguma coisa. Líderes ocupados costumam sobrecarregar-se. Dizer ‘não’ e cumpri-lo reduzirão o estresse e trarão você de volta ao senso de controle. Examine sua agenda e escolha um compromisso ou tarefa do qual deixará de participar.
  11. Mesmo antes de realizarmos com sucesso o Plano A, devemos estar desenvolvendo um Plano B pessoal.
    Dica
    Prepare um Plano B por escrito. O que você faria se fosse demitido amanhã e tivesse de procurar clientes, não um emprego? O que exatamente você faz que as pessoas o remunerariam por isso?
  12. Não devemos set ‘vítimas’ de influências externas; precisamos ter controle de nossas programações.
    Dica
    Imagine sua semana ideal. Recentemente, o The Wall Street Journal escreveu sobre uma pesquisa de opinião dos americanos em relação ao tempo. Uma das perguntas mais interessantes era a seguinte: “Você sacrificaria o salário de um dia por um dia extra fora do trabalho a cada semana?” O resultado mostrou que muitas pessoas o fariam. E você? Como seria a sua semana ideal? Faça um rascunho.
  13. Devemos primeiro tomar importantes decisões de vida que são a matéria-prima das decisões profissionais.
    Dica
    Programe um check-up do coração. Qual foi a última vez que você teve uma verdadeira conversa sobre ‘prioridades de vida’? Ou um encontro coração a coração com alguém próximo? Pense nas suas amizades. Qual foi a última vez que você perguntou como ele ou ela estava passando e parou para realmente ouvir a resposta? Está preocupado com por que você e seu (sua) parceiro(a) não conversam mais? Marque um check-up do seu coração com alguém íntimo esta semana.
  14. Devemos combinar prioridades e compensações em nossa vida pessoal e no trabalho, ou nos arriscarmos a gastar nossa moeda mais valiosa: o tempo.
    Dica
    Anteveja-se no ano 2020. Onde você estará quando o relógio bater meia-noite em 31 de dezembro de 2020? Converse sobre seu ideal de carreira e cenário de vida com um amigo.
  15. Trabalhar com uma clara noção de objetivo pessoal gera sucesso com realização; uma declaração por escrito do objetivo pessoal reduz a ansiedade em tempos de mudança.
    Dica
    Faça a grande pergunta. O fato é que muitos de nós estão adiando um objetivo. Se nos pedirem para explicar nosso propósito de vida, presumimos que tem de ser algo para se colocar em uma lápide, algo inspirador, como nos dedicarmos à paz mundial. Apesar de alguns líderes realmente possuírem um esmagador senso de propósito, muitos não o possuem. Contudo, é importante fazer constantemente a grande pergunta, “por que acordei esta manhã?” Como você responderia a esta pergunta hoje?
  16. Devemos possuir um claro significado de vida e fazer contato consistente com a energia superior acima de nós.
    Dica
    Encontre um ponto de escuta. Passamos grande parte do tempo dando voltas, tentando imaginar o que fazer, mas precisamos primeiro imaginar o que queremos ser. Faça disto um motivo para fazer pausas regulares do espírito. Imagine-se em seu lugar predileto e tranqüilo — um ponto de escuta. Alguns minutos lá renovarão sua essência espiritual. Respire profundamente várias vezes, inspirando e expirando lentamente, para aumentar sua concentração. Dê espaço para sua essência espiritual se expandir.
  17. Guiar a partir de uma clara noção de objetivo pessoal gera coragem; a verdadeira coragem atrai seguidores autênticos.
    Dica
    Reveja a agenda desta semana. Os compromissos em calendários refletem o que somos. O modo como gastamos nosso tempo define como vivemos e lideramos. Você está dedicando tempo aos corajosos ‘campeões da mudança’ em sua organização? Suas agendas de reunião concedem tempo para ‘conversas francas’?
  18. A chave para o alto desempenho é a integridade — fazer pequenas coisas consistentemente. A integridade da liderança é construída ou destruída pelas pequenas coisas do dia-a-dia que se transformam em um padrão.
    Dica
    Pratique de fato as técnicas de administração do estresse que você conhece. Você certamente conhece muitas. Uma técnica simples é sair 15 minutos antes para os compromissos para que você não precise correr. Qual a técnica de administração do estresse que você conhece e precisa retomar?
  19. A estafa provém principalmente de um modo de viver reativo; o estresse pode nos levar ao colapso ou pode nos energizar; a diferença está em como o percebemos.
    Dica
    Autoliderança é cuidar de si mesmo. A maneira de dar início à autonomia é sendo honesto consigo mesmo. Como está sua saúde? Você têm a energia e a vitalidade necessárias para continuar a corrida? Marque logo um check-up clínico.
  20. As pessoas são atraídas pelo que é célebre; celebre as várias faces da celebração.
    Dica
    Relaxe. A celebração é um processo gradativo; observe os ‘passos do bebê’ a caminho da mudança telefonando, escrevendo notas e afirmando seu progresso durante todo o ano. E reencontre o sorriso, se você o perdeu!
Richard J. Leider é fundador e sócio do The Inventure Group, uma empresa de treinamento em Mineápolis, Minnesota. Ele é autor de Repacking your bags (Refazendo suas malas), The power of purpose (A força do propósito), The inventurer (O inventor). Leider é conferencista, escritor e diretor de seminários, além de líder nacionalmente reconhecido no campo do desenvolvimento de carreira.

Questões - 16 a 19

1. Stephen R. Covey no artigo Três Funções do Líder no Novo Paradigma sugere que se desmembre a liderança em três funções ou atividades básicas: explorar, alinhar e dar autonomia (empowerment). A descrição a seguir refere-se a qual das funções?
Assegurar que a estrutura organizacional, sistemas e processos operacionais contribuam para realizar a missão e a visão de atender às necessidades de clientes e de outros grupos de interesse.


  • a) Explorar;
  • b) Alinhar;
  • c) Dar autonomia;
  • d) Explorar e alinhar;
  • e) Nenhuma das acima
2. No artigo Três Funções do Líder no Novo Paradigma, Stephen R. Covey aponta a principal fonte de mudança pessoal para transformação do líder do futuro e também o impulso básico para a mudança organizacional. Quais são?


  • a) insatisfação e globalização;
  • b) violação da confiança e espírito de parceria;
  • c) vida desiquilibrada e reengenharia de processos;
  • d) princípios e concorrência ecológica;
  • e) Nenhuma das acima.
3. Segundo Covey o líder do futuro é humilde para aceitar princípios e corajoso para se alinhar a eles, o que exige grande sacrifício pessoal. Através da humildade, da coragem e do sacrifício advém a integridade. Na verdade, o autor gosta de pensar neste tipo de líder como se houvesse uma família inteira dentro dele: humildade e coragem, os pais; integridade, o filho. Descreva o filho.
Do casamento da humildade com a coragem nasce a integridade – o filho. Ter integridade significa estar integrado com princípios. Os líderes do futuro devem ser homens e mulheres íntegros, que internalizem estes princípios. Eles crescem em sabedoria e cultivam uma mentalidade de fartura — o reconhecimento de que há oportunidade para todos.Sua segurança, poder, sabedoria e orientação aumentam, pois você traz constantemente consigo a força destes princípios à medida que os aplica.

4. No artigo Desenvolvendo Líderes Tridimensionais, James F. Bolt propõe no lugar do sistema que produz gerentes unidimensionais uma estrutura de desenvolvimento de liderança holística e tridimensional, um processo abrangente que reconhece que executivos precisam de raciocínio, conhecimento e habilidades bastante diferentes dos do passado. A estrutura tridimensional pressupõe o desenvolvimento de habilidades profissionais, de liderança e de eficácia pessoal. Qual das descrições abaixo se refere a habilidade de eficácia pessoal.


  • a) Capacidade de liderança plenamente desenvolvida necessária para conduzir a organização ao futuro de modo confiável;
  • b) Mentalidade e recursos necessários para identificar e abordar desafios profissionais globais;
  • c) Habilidades de eficácia pessoal necessárias para atingir a excelência, o equilíbrio e a continua renovação;
  • d) Prover os executivos de recursos necessários a identificar desafios profissionais críticos e a lidar com eles;
  • e) Nenhuma das alternativas acima.
5. Bolt no artigo Desenvolvendo Líderes Tridimensionais apresenta cinco métodos práticos para as organizações aplicarem a estrutura tridimensional e algumas perguntas a serem feitas para orientar o desenvolvimento. A descrição abaixo descreve qual dos métodos?
Devem buscar feedback com pessoas suficientemente instruídas e honestas para fornecerem opiniões francas, com o objetivo de identificar as lacunas do desenvolvimento individual. Após esta auto-análise, um plano pessoal de autodesenvolvimento pode ser elaborado com o objetivo de preencher as lacunas do desenvolvimento identificadas na auto-avaliação baseada na estrutura tridimensional.


  • a) Educação executiva interna;
  • b) Uma diretriz para programas externos;
  • c) Planejamento da sucessão;
  • d) Um gabarito para o sistema de recursos humanos;
  • e) Um instrumento de auto-avaliação

6. Caela Farren e Beverly L. Kaye no artigo Novas Habilidades para Novos Papéis de Liderança informam que existem muitas maneiras e oportunidades de ajudar as pessoas a desenvolverem suas carreiras. Estas ações podem ser divididas em cinco amplas categorias. Cada categoria é um papel distinto de liderança que corresponde a um estágio diferente do processo de desenvolvimento de carreira. Estes papéis são facilitador, avaliador, ‘realizador de previsões’, conselheiro e habilitador. As seguintes características correspondem a que papel?

  • Ajuda a identificar uma gama de metas de carreira desejáveis.
  • Ajuda as pessoas na escolha de metas profissionais sensatas.
  • Relaciona potenciais metas de carreira aos requisitos da atividade e a intenção estratégica da organização.
  • Chama atenção para possíveis fontes de apoio e para obstáculos ao a alcance das metas de carreira.
  • a) Facilitador;
  • b) Avaliador;
  • c) Realizador de previsões;
  • d) Conselheira;
  • e) Habilitador

7. As autoras Caela Farren e Beverly L. Kaye, afirmam que a contribuição vital do ‘realizador de previsões’ em termos de liderança é ajudar os demais a alcançarem a expansão da consciência. Isto se realiza através da prática assídua de duas habilidades direcionadas para o futuro: observar tendências e prever. Descreva a habilidade de observar tendências.
Observar tendências consiste em prestar muita atenção a novos ou inesperados avanços no ambiente de trabalho da equipe e especular sobre a possibilidade de afetarem as opções de carreira das pessoas. Observar tendências é um método de pensar em como o futuro está se configurando e o que isto significara para a organização e os membros da equipe de trabalho. Para ser um observador eficaz você deve ser um eterno aprendiz, analisando reportagens e jornais profissionais ou do setor de mercado, e examinando a cultura e as pessoas que o rodeiam em busca de indícios do novo e do que previamente é irreconhecível. Cinco níveis distintos de sistemas devem ser esmiuçados pelo observador aspirante: setores de mercado, profissões, organizações, cargos e pessoas.

8. Para Richard J. Leider no artigo A Suprema Tarefa da Liderança enfoca a Autoliderança, empregados, em grandes e pequenas empresas, não sabem mais a quem pertencem, ou mesmo se pertencem. Pessoas que sempre presumiram que suas organizações ‘cuidariam delas’, não estão preparadas para quando as novas realidades empresariais transformarem a seguranca no emprego em uma nova realidade de carreira – VOCÊ Ltda. O que é a nova realidade da carreira VOCÊ Ltda?
A realidade da VOCÊ Ltda. requer um novo ‘contrato profissional’, sob o qual os líderes ajudam os seguidores a adquirir e desenvolver o perfeito domínio de habilidades profissionais ‘portáteis’, necessárias no século XXI, e os empregados adotam um espírito de urgência e aprendizado de desempenho competitivo. A autolideranca é o núcleo em torno do qual um novo contrato profissional é elaborado. Ele consiste em objetivo, valores, visão e coragem pessoais. É o caráter que cada pessoa trás para o papel de liderança.
A autoliderança é a essência da liderança. Ela se baseia no autoconhecirnento e na busca de conselhos confiáveis. Os líderes de um mundo mutável precisam preparar um inventário de atributos pessoais que abracem ou detenham a mudança. A menos que compreendam a visão que os motiva a liderar, o objetivo que os entusiasma e os valores que os investem de poder, como podem fazer escolhas corajosas em um mundo caótico?
A autolideranca é a essência de toda pessoa, equipe e mudança organizacional. A liderança visionária requer coragem. A unidade de uma equipe requer engajamento. A mudança organizacional requer mudança individual. Por conseguinte, os líderes precisam trançar, do início ao fim, o fio dourado da autolideranca através de todas as filosofias, processos, programas e ferramentas da mudança. Este conceito tão simples evoca de muitos líderes falsos acordos, que muito contrastam com tempo e os recursos que realmente dedicam a ele. Muitos líderes são vistos com muita aparência e nenhum conteúdo, ou seja, não agem de acordo com o que dizem. Os líderes devem recorrer constantemente a seus objetivos pessoais, valores, visão e coragem. Devem lidar não apenas com a ameaça externa do fracasso competitivo, mas também com a ameaça interna cada vez maior da falta de integridade da liderança pois, no século XXI, a autoliderança constituirá o desafio fundamental da liderança: a habilidade da sobrevivência.

9. Richard J. Leider no artigo A Suprema Tarefa da Liderança apresenta 20 dicas para desfrutar da autoliderança. Qual das abaixo não é uma das dicas?

  • a) Procure ficar um pouco a sós todos os dias;
  • b) Retome um relacionamento com um mentor ou instrutor;
  • c) Eleja seu conselho administrativo;
  • d) Programe um check-up do coração;
  • e) Autoliderança é cuidar dos outros.

10. Richard J. Leider no artigo A Suprema Tarefa da Liderança apresenta 20 dicas para desfrutar da autoliderança. A dica abaixo se refere a que quesito?
Desista de alguma coisa. Líderes ocupados costumam sobrecarregar-se. Dizer ‘não’ e cumpri-lo reduzirão o estresse e trarão você de volta ao senso de controle. Examine sua agenda e escolha um compromisso ou tarefa do qual deixará de participar.

  • a) Precisamos reconhecer nossos vícios para descobrir se estamos sendo verdadeiros com nossa essência ou vivendo em uma prisão auto-imposta, comandados pelas expectativas dos outros ou de nosso trabalho;
  • b) Precisamos preparar um inventário de nossos talentos de liderança se pretendemos nos beneficiar no futuro com as lições do passado;
  • c) Precisamos assumir riscos para dar inicio a corajosas conversações que nos manterão em diálogo direto, honesto e criativo com nossos colegas e seguidores;
  • d) Devemos primeiro tomar importantes decisões de vida que são a matéria-prima das decisões profissionais;
  • e) A estafa provém principalmente de um modo de viver reativo; o estresse pode nos levar ao colapso ou pode nos energizar; a diferença está em como o percebemos.