segunda-feira, 11 de junho de 2007

A Suprema Tarefa da Liderança

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Richard J. Leider

A Autoliderança
Vivemos em uma época de reengenharia organizacional. Para se tornarem ou permanecerem competitivos, os líderes muitas vezes precisam realizar melhorias através da mudança radical, ou reengenharia. No contexto da mudança radical, que responsabilidade de carreira os líderes têm com seus seguidores? Como podem obter energia ilimitada e agilidade no desempenho, sem que também tenham desenvolvido um novo tipo de relacionamento com os empregados? E como podem construir relacionamentos eficazes, sem que se relacionem de forma eficaz consigo mesmos por meio da autoliderança?

As pessoas são a parte difícil
Pessoas não podem ser reestruturadas. Organizações não podem forçar as pessoas a ter mais autonomia (empowerment) e os líderes não podem dar essa autonomia às pessoas no intuito de se tornarem inovadoras ou corajosas, ou de escolherem cursos de ação desconhecidos ou desconfortáveis. As pessoas devem dar autonomia a si mesmas. Somente elas podem escolher uma nova direção a tomar ou arriscar a reputação de suas carreiras para realizar uma nova visão, pois toda mudança é uma mudança de si mesmo. Toda reengenharia exige grandes escolhas relativas à autoliderança.
Por estas razões, e porque os seres humanos são humanos, eles têm dificuldade de alcançar o domínio da mudança. Muitas organizações e seus dirigentes descobriram que “as pessoas são a parte difícil” ao desenvolverem a mudança radical. Frequentemente, os líderes costumam fugir do lado humano no gerenciamento da mudança, pois o aspecto pessoal da empresa não é o forte deles. Eles se sentem mais à vontade com tarefas técnicas ou financeiras do que com as questões humanas. Costumam dizer: “Não quero entrar nessas questões humanas. Só quero obter resultados”.
Eu concordo. Mas duas décadas de trabalho com dirigentes durante situações de mudança convenceram-me de três coisas:
  1. Toda mudança é uma mudança de si mesmo. Você não pode obter os resultados que precisa hoje sem entrar neste ‘tema humano’. Toda mudança é uma escolha. Não existe uma maneira refinada e caprichosa de fazer mudanças.
  2. Com a mudança de si mesmo você se emociona. Não é necessário ser formado em psicologia para ajudar as pessoas a se ajudarem. Isto requer a arte da liderança de pessoas para fazê-las se sentirem ouvidas. Isto requer ‘aquela questão humana’ — seu coração (heart). A palavra heart é formada por duas palavras: ouvir (hear) e arte (art). A essência do processo de mudança reside na arte de ouvir. Isto é absolutamente indispensável a mudança.
  3. Mudança requer autoliderança. Nos anos 90, a tendência é que todos tenhamos mais responsabilidade, assumindo mais controle de nossas vidas. Os líderes devem olhar constantemente para dentro de si mesmos a fim de decidir o que querem, o que valorizam e o que estão dispostos a enfrentar.
A verdadeira mudança depende da motivação e da autoliderança tanto dos líderes quanto dos seguidores. Um elemento crítico para sustentar qualquer iniciativa de mudança é deixar predominar a motivação e os talentos de todos e oferecer apoio para que sejam utilizados de modo eficaz na organização. Mesmo no novo mundo das equipes, a escolha individual permanece a chave para desenvolver equipes de alto desempenho. Você não pode formar uma grande equipe tendo como base um amontoado de componentes passivos.

A realidade da nova carreira: VOCÊ Ltda.
Diante da mudança radical, o trabalho hoje não é mais trabalhar para muitas pessoas. Empregados em todos os níveis, em grandes e pequenas empresas, não sabem mais a quem pertencem, ou mesmo se pertencem. Pessoas que sempre presumiram que suas organizações ‘cuidariam delas’, não estão preparadas para quando as novas realidades empresariais transformarem a seguranca no emprego em uma nova realidade de carreira – VOCÊ Ltda. Elas agora trabalham primeiro para si mesmas e, depois, para suas organizações.
Freqüentemente as pessoas reclamam que seu trabalho, que antes adoravam, tornou-se enfadonho. Ou que estão fazendo o dobro do que faziam antes, embora gostando muito menos. Contudo, estão relutando em externar estas queixas para os dirigentes de suas organizações porque se sentem vulneráveis. Os novos ‘intra-empresários’ questionam o significado do que estão fazendo e se sentem pouco fiéis à autoridade empresarial, embora queiram colaborar com seus talentos. Eles estão naturalmente oprimidos, frustrados e cansados de viver no ‘pós-choque’ da mudança. São céticos com relação aos novos dirigentes, que são adotados como panacéia universal para todas as moléstias da organização.
Trocar a dependência da carreira pela autoliderança na carreira não é apenas imperativo, mas também inevitável nas organizações reestruturadas de hoje. O líder que consegue admitir esta troca essencial para VOCÊ Ltda., e constrói a partir dela, possui uma imensa vantagem estratégica no recrutamento de talentos para um local de trabalho que seja preferido por muitos. E locais de trabalho prediletos atrairão profissionais que se autolideram, imprescindíveis para o sucesso.

A autoliderança é a essência da liderança
A realidade da VOCÊ Ltda. requer um novo ‘contrato profissional’, sob o qual os líderes ajudam os seguidores a adquirir e desenvolver o perfeito domínio de habilidades profissionais ‘portáteis’, necessárias no século XXI, e os empregados adotam um espírito de urgência e aprendizado de desempenho competitivo. A autolideranca é o núcleo em torno do qual um novo contrato profissional é elaborado. Ele consiste em objetivo, valores, visão e coragem pessoais. É o caráter que cada pessoa trás para o papel de liderança.
A autoliderança é a essência da liderança. Ela se baseia no autoconhecirnento e na busca de conselhos confiáveis. Os líderes de um mundo mutável precisam preparar um inventário de atributos pessoais que abracem ou detenham a mudança. A menos que compreendam a visão que os motiva a liderar, o objetivo que os entusiasma e os valores que os investem de poder, como podem fazer escolhas corajosas em um mundo caótico?
A autolideranca é a essência de toda pessoa, equipe e mudança organizacional. A liderança visionária requer coragem. A unidade de uma equipe requer engajamento. A mudança organizacional requer mudança individual. Por conseguinte, os líderes precisam trançar, do início ao fim, o fio dourado da autolideranca através de todas as filosofias, processos, programas e ferramentas da mudança. Este conceito tão simples evoca de muitos líderes falsos acordos, que muito contrastam com tempo e os recursos que realmente dedicam a ele. Muitos líderes são vistos com muita aparência e nenhum conteúdo, ou seja, não agem de acordo com o que dizem. Os líderes devem recorrer constantemente a seus objetivos pessoais, valores, visão e coragem. Devem lidar não apenas com a ameaça externa do fracasso competitivo, mas também com a ameaça interna cada vez maior da falta de integridade da liderança pois, no século XXI, a autoliderança constituirá o desafio fundamental da liderança: a habilidade da sobrevivência.
Para tornar a questão ainda mais interessante, atualmente as coisas em casa também não estão fáceis para os líderes. Famílias e relações pessoais estão repletas de novos desafios para os quais os líderes não estão preparados. Grande parte deles está se dedicando mais ainda ao trabalho. Casamentos que outrora lutavam contra a ‘destruição íntima’, embora permanecendo inalterados durante anos, se romperam. (A destruição íntima é a arte de morrer sem demonstrar; o casamento parece bom por fora, mas está morto por dentro — sem vitalidade.) Os ganhos são freqüentes em uma corrida com as despesas, e as despesas parecem estar vencendo. Hoje em dia, os desafios dos líderes, em casa e no trabalho, consistem em constantes e árduos desgastes. Não é a toa que muitos deles se perguntam se tudo isto vale a pena e nem imaginam como manejá-los.
Muitos dos grandes pensadores, desde Tales (“Conhece-te a ti mesmo”) a William Shakespeare (“Para teu próprio proveito, sê verdadeiro”) e a Mahatma Gandhi (“Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo”), nos persuadiram a olhar para dentro de nós mesmos em busca de orientação de liderança. Hoje em dia, muitos líderes estão levando a sério o conselho deles, e por justa razão.

Vinte dicas para desfrutar da autoliderança
A seguir, vinte dicas para desfrutar da autolideranca hoje:
  1. A qualidade e a profundidade de nossa liderança se refletem em nossos relacionamentos com nossos colegas e seguidores; devemos ser claros sobre nosso valores pois eles revelam os líderes que realmente somos.
    Dica
    Identifique seu nível de estresse. Procure seus sintomas — falta de memória; fadiga crônica; insônia; alterações do apetite; freqüentes resfriados, dores de cabeça ou dores lombares; retraimento das relações ou freqüentes mudanças de humor. Se você não está certo de ter um problema, pergunte à família ou aos amigos se eles notaram mudanças em você.
  2. Não somos impotentes para escolher nossas condições de vida e de trabalho; temos realmente escolhas e elas representam o segredo de nossa força; a disposição para praticar nossas escolhas constitui a fonte da energia de liderança.
    Dica
    Obtenha controle onde puder. A função de um líder inclui forças desgastantes fora de seu controle. Procure áreas pessoais nas quais você assume o controle. Programe tempo para conciliar sua necessidade de praticar exercícios ou para atender a eventos familiares.
  3. Precisamos reconhecer nossos vícios para descobrir se estamos sendo verdadeiros com nossa essência ou vivendo em uma prisão auto-imposta, comandados pelas expectativas dos outros ou de nosso trabalho.
    Dica
    Equilibre seu estilo de vida. Líderes que se sentem vítimas são quase sempre perfeccionistas, idealistas ou obcecados pelo trabalho, pessoas que jamais podem realmente satisfazer-se a si mesmos. Pense em um outro campo de sua vida que gostaria de desenvolver além do trabalho — sua mente? Corpo? Espirito?
  4. Mudanças verdadeiras provêm de mudanças em nossos mapas mentais, uma grande energia surge de uma visão pessoal clara e apaixonada.
    Dica
    Procure ficar um pouco a sós todos os dias. Para esclarecer as idéias é absolutamente essencial se permitir pelo menos 15 minutos ao dia para refletir sobre a situação global, definir ou rever prioridades.
  5. Uma boa avaliação da liderança é obtida quando feita com base em nossos próprios e completos registros de nossas ações, em vez de nos registros parciais e incompletos de qualquer outra pessoa.
    Dica
    Faca o que gosta, ou procure um aconselhamento de carreira. Podemos nos esgotar fazendo o que gostamos, mas não nos queimamos nem enferrujamos. Se você estiver se queimando, talvez não goste realmente do que faz e tenha de reinventar seu trabalho.
  6. Precisamos preparar um inventário de nossos talentos de liderança se pretendemos nos beneficiar no futuro com as lições do passado.
    Dica
    Examine sua função. Durante uma semana, utilize um bloquinho no qual anotará tudo que naturalmente gosta de fazer e tudo que você detesta no trabalho. Pergunte-se honestamente, “quanto tempo gasto fazendo o que gosto naturalmente de fazer?” Depois se concentre em suas potencialidades e gerencie as fragilidades.
  7. Precisamos decidir pessoalmente com quais critérios queremos que nosso legado de liderança seja medido.
    Dica
    Retome um relacionamento com um mentor ou instrutor. Um bom instrutor pode ajudar a perceber obstáculos no seu trabalho ou na vida pessoal e oferecer uma nova perspectiva de seus valores e critérios de sucesso. Pergunte-se, “Quem são meus mestres hoje?” “Quem é a primeira pessoa que procuro em busca de orientação?”
  8. Reinventar-nos é um longo e contínuo processo de aprendizado; precisamos nos acostumar com a realidade de que a satisfação sempre leva à insatisfação.
    Dica
    Desafie-se a sair de sua zona de conforto. Busque uma posição que não seja de liderança em uma organização comunitária ou profissional. Ou submeta-se a uma experiência de aprendizado fora de seu ambiente. Risco e desafio podem recarregar suas baterias.
  9. Devemos estabelecer sólidos sistemas de apoio — um conselho administrativo pessoal — que possa nos levar pelos caprichos da mudança.
    Dica
    Eleja seu conselho administrativo. Quem são as pessoas com sabedoria e conselho pessoal que você admira? Quem você nomearia para presidir a equipe consultiva de sua vida pessoal, profissional e de liderança?
  10. Precisamos assumir riscos para dar inicio a corajosas conversações que nos manterão em diálogo direto, honesto e criativo com nossos colegas e seguidores.
    Dica
    Desista de alguma coisa. Líderes ocupados costumam sobrecarregar-se. Dizer ‘não’ e cumpri-lo reduzirão o estresse e trarão você de volta ao senso de controle. Examine sua agenda e escolha um compromisso ou tarefa do qual deixará de participar.
  11. Mesmo antes de realizarmos com sucesso o Plano A, devemos estar desenvolvendo um Plano B pessoal.
    Dica
    Prepare um Plano B por escrito. O que você faria se fosse demitido amanhã e tivesse de procurar clientes, não um emprego? O que exatamente você faz que as pessoas o remunerariam por isso?
  12. Não devemos set ‘vítimas’ de influências externas; precisamos ter controle de nossas programações.
    Dica
    Imagine sua semana ideal. Recentemente, o The Wall Street Journal escreveu sobre uma pesquisa de opinião dos americanos em relação ao tempo. Uma das perguntas mais interessantes era a seguinte: “Você sacrificaria o salário de um dia por um dia extra fora do trabalho a cada semana?” O resultado mostrou que muitas pessoas o fariam. E você? Como seria a sua semana ideal? Faça um rascunho.
  13. Devemos primeiro tomar importantes decisões de vida que são a matéria-prima das decisões profissionais.
    Dica
    Programe um check-up do coração. Qual foi a última vez que você teve uma verdadeira conversa sobre ‘prioridades de vida’? Ou um encontro coração a coração com alguém próximo? Pense nas suas amizades. Qual foi a última vez que você perguntou como ele ou ela estava passando e parou para realmente ouvir a resposta? Está preocupado com por que você e seu (sua) parceiro(a) não conversam mais? Marque um check-up do seu coração com alguém íntimo esta semana.
  14. Devemos combinar prioridades e compensações em nossa vida pessoal e no trabalho, ou nos arriscarmos a gastar nossa moeda mais valiosa: o tempo.
    Dica
    Anteveja-se no ano 2020. Onde você estará quando o relógio bater meia-noite em 31 de dezembro de 2020? Converse sobre seu ideal de carreira e cenário de vida com um amigo.
  15. Trabalhar com uma clara noção de objetivo pessoal gera sucesso com realização; uma declaração por escrito do objetivo pessoal reduz a ansiedade em tempos de mudança.
    Dica
    Faça a grande pergunta. O fato é que muitos de nós estão adiando um objetivo. Se nos pedirem para explicar nosso propósito de vida, presumimos que tem de ser algo para se colocar em uma lápide, algo inspirador, como nos dedicarmos à paz mundial. Apesar de alguns líderes realmente possuírem um esmagador senso de propósito, muitos não o possuem. Contudo, é importante fazer constantemente a grande pergunta, “por que acordei esta manhã?” Como você responderia a esta pergunta hoje?
  16. Devemos possuir um claro significado de vida e fazer contato consistente com a energia superior acima de nós.
    Dica
    Encontre um ponto de escuta. Passamos grande parte do tempo dando voltas, tentando imaginar o que fazer, mas precisamos primeiro imaginar o que queremos ser. Faça disto um motivo para fazer pausas regulares do espírito. Imagine-se em seu lugar predileto e tranqüilo — um ponto de escuta. Alguns minutos lá renovarão sua essência espiritual. Respire profundamente várias vezes, inspirando e expirando lentamente, para aumentar sua concentração. Dê espaço para sua essência espiritual se expandir.
  17. Guiar a partir de uma clara noção de objetivo pessoal gera coragem; a verdadeira coragem atrai seguidores autênticos.
    Dica
    Reveja a agenda desta semana. Os compromissos em calendários refletem o que somos. O modo como gastamos nosso tempo define como vivemos e lideramos. Você está dedicando tempo aos corajosos ‘campeões da mudança’ em sua organização? Suas agendas de reunião concedem tempo para ‘conversas francas’?
  18. A chave para o alto desempenho é a integridade — fazer pequenas coisas consistentemente. A integridade da liderança é construída ou destruída pelas pequenas coisas do dia-a-dia que se transformam em um padrão.
    Dica
    Pratique de fato as técnicas de administração do estresse que você conhece. Você certamente conhece muitas. Uma técnica simples é sair 15 minutos antes para os compromissos para que você não precise correr. Qual a técnica de administração do estresse que você conhece e precisa retomar?
  19. A estafa provém principalmente de um modo de viver reativo; o estresse pode nos levar ao colapso ou pode nos energizar; a diferença está em como o percebemos.
    Dica
    Autoliderança é cuidar de si mesmo. A maneira de dar início à autonomia é sendo honesto consigo mesmo. Como está sua saúde? Você têm a energia e a vitalidade necessárias para continuar a corrida? Marque logo um check-up clínico.
  20. As pessoas são atraídas pelo que é célebre; celebre as várias faces da celebração.
    Dica
    Relaxe. A celebração é um processo gradativo; observe os ‘passos do bebê’ a caminho da mudança telefonando, escrevendo notas e afirmando seu progresso durante todo o ano. E reencontre o sorriso, se você o perdeu!
Richard J. Leider é fundador e sócio do The Inventure Group, uma empresa de treinamento em Mineápolis, Minnesota. Ele é autor de Repacking your bags (Refazendo suas malas), The power of purpose (A força do propósito), The inventurer (O inventor). Leider é conferencista, escritor e diretor de seminários, além de líder nacionalmente reconhecido no campo do desenvolvimento de carreira.